segunda-feira, dezembro 14, 2009


O Âmago da Crise


"Uma média de dez empresários por semana estão a abandonar o Reino Unido para evitar o novo imposto de 50% sobre os seus prémios anunciou ontem o Sunday Times. Entre os que estão de debandada contam-se banqueiros e empresários dos sectores imobiliário e turístico, que se queixam não só do aumento dos impostos sobre os prémios decretado pelo 1º Ministro Gordon Brown, como também pelo aumento da contribuição para a Segurança Social. Entre nós o Governo também "prometeu" uma taxa especial sobre os prémios já no Orçamento de 2010."


O que aconteceu e ainda está a acontecer, em termos de crise, mergulha no âmago do que é nossa própria natureza.

O antigo Presidente da Reserva Federal Americana, Alan Geenspan, que esteve durante 18 anos à frente daquele poderoso organismo e cuja voz era ouvida religiosamente por todos os que tinham de tomar decisões importantes no mundo das finanças, prestou declarações no dealbar da crise, numa Audiência na Câmara dos Representantes, reconhecendo que, afinal, sempre esteve enganado sobre a capacidade dos responsáveis das entidades bancárias de defenderem os interesses dos respectivos accionistas e da própria sobrevivência das instituições que superintendiam, admitindo que errou por ter confiado na auto regulação dos mercados.

O testemunho deste homem, profundamente envelhecido, durante muito tempo o todo poderoso do mundo da finança nos EUA, foi algo de patético e se esta crise tem um rosto, era aquele, certamente.

Acreditou-se num “homem” que, na realidade, não existe nem nunca existiu e uma sociedade que se estrutura numa base irrealista está destinada a surpresas muito desagradáveis.

Foi assim nos regimes comunistas com os resultados conhecidos e está a ser agora quando se deixou “à rédea solta” pessoas que foram praticamente livres para actuarem e decidirem num sector de actividade que era vital para todos nós.

O “homem” é intrinsecamente egoísta e desonesto, que é uma das formas de ser egoísta e portanto não se espere dele aquilo que não está na sua natureza. Por isso, em sociedade, o homem tem de se defender de si próprio.

Richard Dawkins, no seu livro “O Gene Egoísta” escreve a páginas 23:

“Este livro pretende, acima de tudo, ser interessante, mas se alguém quiser extrair dele uma moral, que seja lido como um aviso.

Saibam que, se desejarem, tal como eu, construir uma sociedade na qual os indivíduos cooperem generosa e desinteressadamente para o bem-estar comum, não poderão contar com a ajuda da natureza biológica.

Tentamos ensinar generosidade e altruísmo porque nascemos egoístas.

Compreendamos o que pretendem os nossos próprios genes egoístas, para que possamos ter a oportunidade de frustrar as suas intenções, uma coisa que nenhuma outra espécie alguma vez aspirou a fazer.

Os nossos genes podem programar-nos para sermos egoístas, mas não somos obrigados necessariamente a obedecer-lhes, simplesmente, ser-nos-á mais difícil aprender o altruísmo do que seria se estivéssemos geneticamente programados para sermos altruístas.”


- Pensem naquelas centenas ou milhares de pessoas que em todo o mundo tinham a liberdade de tomar decisões, legais ou de legalidade duvidosa, no desempenho dos seus cargos nas instituições bancárias onde trabalhavam;

- Pensem nos muitos milhões de clientes de bancos que aceitam empréstimos porque lhos concedem mas admitindo, interiormente, que têm pouca probabilidade de os pagarem.

- Pensem nos muitos outros milhões que vivem permanentemente endividados porque não aceitam um nível de vida com despesas dentro dos seus orçamentos apenas porque se julgam com direito a terem e a usufruírem daquilo que vêm no vizinho.

Em todos estes casos temos manifestações de egoísmo e não estamos, de certo, a pensar nos outros… apenas a obedecer à nossa natureza egoísta.

É preciso saber isto, a ciência da biologia e da genética ensina-nos sobre o homem, não apenas para vivermos mais tempo e com mais saúde, mas também para nos conhecermos melhor naquilo que é a nossa verdadeira natureza e o Aviso feito por Richar Dawkins.

Parece, no entanto, que nas coisas importantes da vida só conseguimos aprender à nossa custa, a nível individual, muitas vezes já tarde de mais, no que respeita à sociedade, parece que aprendemos no momento mas, normalmente, mais tarde voltamos ao erro.

Não está ao nosso alcance corrigir a nossa própria natureza que é o resultado de um processo evolutivo de muitos milhões de anos, mas somos dotados de inteligência e conhecimentos que nos permitem defender do risco que representamos para nós próprios.

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