sexta-feira, dezembro 04, 2009



O Dilema do
Pavão


Esclareço que não estou a referir-me aos pavões que podemos ver no Jardim Zoológico ou àqueles que se passeiam vaidosos nos jardins dos palácios como elementos vivos de decoração e exotismo.

Não, esses não se defrontam com nenhum dilema, talvez tédio mas não dilema.

Apesar do seu mau feitio foi-lhes roubada a liberdade e escolhidos para alindarem jardins. A troco, garantiram-lhes a paz e a segurança das suas vidas sem lhes perguntarem se era isso que eles queriam.

Claro que o homem não costuma questionar-se quando interfere na natureza. Simplesmente serve-se a seu belo prazer, põe e dispõe e só agora, tarde demais para muitas espécies para sempre desaparecidas, tomou consciência das consequências dos seus actos para a sua própria sobrevivência no longo prazo.

Era, pois, muito difícil, que aquela ave com uma cauda que chega a atingir os dois metros e meio de comprimento, ornamentada com desenhos e cores lindíssimas, pudesse passar despercebida e deixada em paz no seu ambiente natural, lá pelas florestas da Índia, atordoando os ares com os seus gritos estridentes avisadores de intrusos indesejados.

Quando os estudiosos dos fenómenos do Evolucionismo reflectiram sobre aquela cauda que “conduz” os pavões direitinhos para a boca dos tigres, seu principal predador, perguntaram-se como tinha sido possível a uma espécie evoluir desenvolvendo um atributo - a sua longa cauda - que era precisamente a razão da sua morte precoce.

Aquelas penas compridíssimas e pesadas constituem um enorme empecilho quando pretende levantar voo, fazendo lembrar um B52 com os porões carregados a devorar a pista até ao fim para conseguir pôr-se no ar com a diferença que não leva um tigre a correr atrás de si.

Mas os problemas não acabam mesmo que consiga elevar-se porque depois vai pousar num ramo e como é pesado não pode ser um raminho qualquer e, das duas uma, ou fica a uma altura considerável do chão ou o tigre vai buscá-lo armando um salto, eles que são gatos enormes dotados de uma incrível agilidade, puxando-o exactamente pelas penas do rabo.

- Mas então, porquê?


- Não é a vida, seja ela de quem for, o principal valor a preservar na natureza?


- Então como é que essa mesma natureza desenvolve na vítima as características que se transformam em vantagens acrescidas para o predador?

Se pudéssemos voltar ao tempo de La Fontene, quando os animais falavam, e ter com o pavão uma “conversinha” em particular o que ele nos contaria, certamente, seria o terrível dilema em que a sua vida, progressivamente, se transformou e explica o seu permanente mau feitio:

- Viver um romance de amor com a sua amada e poder vir a ser o pai de futuros e lindos pavõesinhos ou acabar estralhaçado na boca voraz de um tigre porque ela, a amada, lhe deu a perceber, sem margens para dúvidas, que escolheria sempre para pai dos seus filhos os machos mais lindos... os que tivessem uma cauda maior.


Entre o tigre e a amada ele, o pavão, escolheu o amor...

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