sábado, fevereiro 06, 2010


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS

MARIDOS

EPISÓDIO Nª 38



Chimbo estimava Vadinho, não só pelo distante e espúrio parentesco como também devido às qualidades do jovem companheiro de roletas e cabarés. Assim, ouvindo certa ocasião alguém tachar Vadinho de vagabundo, sem ofício nem meio de vida, arranjou-lhe modesto emprego de fiscal de jardins da Prefeitura, pois “um Guimarães deve ter posição definida na sociedade”.

- Nenhum Guimarães é um vagabundo…

Contradições desse simpático Chimbo, tão pouco preso a convenções e protocolos e, ao mesmo tempo, com profundo sentimento de família, zeloso do poderoso clã dos Guimarães.

Pois, naquela tarde, encontraram Chimbo em São Pedro, quando o Delegado Auxiliar dirigia-se à Chefatura da Polícia. Um Chimbo aporrinhado da vida, metido em roupa escura e quente, de cerimónia, roupa de enterro ou matrimónio – colarinho de ponta virada, plastrão, colete, polainas, bengala de castão de ouro – um Chimbo a rigor naquele dia escaldante de Fevereiro, o mormaço a asfixiar, canícula mortal, as bocas ávidas por uma cerveja bem gelada.

- Só uma bramota polar nos pode salvar a vida… - disse Vadinho abraçando o parente e protector.

Chimbo arrenegou da sorte, em plástica e forte língua, dando nomes, num azedume. “merda de vida mais escrota aquela, emprego mais filho da puta aquele, obrigado a acompanhar o Governador a todos os cantos, a todas as cerimónias, a todas essas merdolências e porcarias…Não o viam assim fantasiado de comendador português? Naquela noite tinha de comparecer, por força do cargo, à instalação solene de um congresso científico – Congresso Nacional de Obstetrícia – na Faculdade de Medicina, com discursos e teses, debates e pareceres sobre partos e abortos, paulificação monumental, Chimbo emborcava rápido seu copo de cerveja, tentando aplacar calor e raiva, seu pai com aquela eterna mania de utilizá-lo na política…

E ainda por cima – imaginassem eles a urucubaca! – o tal Congresso decidira instalar-se logo na noite da festa do Major Pergentino, o Major Tiririca, do Rio Vermelho, certamente eles sabiam de quem se tratava. Fizera um favor ao militar, soltara um desordeiro a seu pedido, e agora o Major não o largava, querendo a todo o custo obsequiá-lo, preparando-lhe grossa homenagem.. A festa de Tiririca, segundo diziam, era de arromba, valia a pena, nela comia-se e bebia-se à farta. E ele, Chimbo, convidado de honra, imaginem a pagodeira!

- Em vez disso vou ter é de ouvir médico falando em parto… meu pai me arranja cada prebenda…

Como convencer o Senador a deixá-lo em paz, em seu canto, se o velho era um sátrapa ante o qual até o Governador tremia? Brilharam os olhos de Vadinho, sorriu Mirandão, Chimbo acabava
de abrir-lhes as portas da glória e
da casa do Major.

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