quinta-feira, fevereiro 11, 2010


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 42



Dona Rozilda apertava a mão do jovem, Flor esclarecia:

- Minha mãe, doutor Waldomiro…

- Vadinho para os amigos…

- Doutor Waldomiro vive à sombra do nosso eminente chefe, o Governador. Trabalha em seu gabinete…

- O Governador gosta muito do senhor, Major. Ainda hoje me disse: “Dê um abraço ao meu amigo Pergentino, amigo do peito…”

O Major chegava a ficar vexado de felicidade:

- Obrigado, doutor…

Porto, a quem tal intimidade palaciana deixava um pouco tímido, comentou:

- Muita responsabilidade…Mas também muita importância…

Vadinho fazia-se modesto:

- Tolice… Nem sei se vou continuar no Palácio…

- E por quê? - quis saber dona Lita.

- Meu avô - confidenciou Vadinho - , o senador…

- O Senador Guimarães… – rezou baixinho dona Rozilda.

Sorriu-lhe Vadinho, uma aura de candura a circundar-lhe o rosto, sorriu melancólico para Flor, tão linda:

- Meu avô quer que eu vá para o Rio, oferece-me um lugar…

- E o senhor vai aceitar? – morria Flor nos olhos de azeite

- Nada me prende aqui… Ninguém… Sou tão sozinho…

Suspirava Flor:

- Tão sozinha…

Da sala de jantar reclamavam o Major, ele não tinha momento de descanso, a atender seus convidados, perfeito anfitrião. Alguém apareceu logo depois batendo palmas, rogando silêncio, o doutor Miranda ia saudar os donos da casa. Ouviu-se o estouro de uma garrafa de champanhe, sendo aberta, a rolha subindo para o teto.

Vadinho e Flor andaram sorridentes para o discurso, “discurso de Mirandão”, alertou Vadinho, “não é coisa que se perca”. Dona Rozilda, o coração aos saltos, comentou para dona Lita e Thales Porto ao ver os jovens partir para o definitivo idílio:

- Não é um par perfeito? Não parecem nascidos um para o outro? Se Deus quiser…

- Oxente, mulher! Conheceram-se hoje e vosmicê já está armando casamento? – Lita balançou a cabeça, sua irmã estava ficando mesmo doida, com aquela mania de noivo rico para a filha.

Dona Rozilda empinou o busto seco, fitou a pessimista com arrogância. Da sala de jantar chegava, encharcada de cerveja, a voz do orador, em seu brinde de saudação. Para lá encaminhou-se a viúva, toda coberta de esperanças.

Palmas saudavam uma frase feliz de Mirandão, ele prosseguiu impávido:

- “Nas páginas imortais da História, senhoras e senhores, ficará gravado em fulgentes letras de ouro o nome honrado do Major Pergentino, cidadão de virtudes exponenciais (a voz ficava vibrando no ar ao dizer a palavra bonita), e o nome da sua nobilíssima esposa, esse ornamento da sociedade da Boa Terra, dona Aurora, anjo…Sim, minhas senhoras e meus senhores, anjo de impolutas (e repetia a voz cantante, impolutas) qualidades, esposa dedicada, virgem de bronze…”

No centro da sala Mirandão, o penetra, o braço erguido a empunhar a taça de champanhe, dominava convidados e donos da casa, todos presos à sua eloquência. O Major sorria beato; a dedicada esposa, a virgem de bronze, baixava os olhos, comovida, jamais sua festa alcançara as alturas daquele triunfo.

- … “dona Aurora, ser amorável, santa, santíssima criatura…”

As lágrimas queimavam os olhos da santa criatura.

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