terça-feira, fevereiro 16, 2010


HISTÓRIAS
DO
APARTHEID

Dr. Hamilton Naki


Hamilton Naki, um negro sul-africano de 78 anos, morreu em Maio de 2005. A notícia não apareceu nos jornais, porém, a sua história é uma das mais extraordinárias do sec. XX.

Naki era um grande cirurgião. Foi ele quem retirou do corpo da dadora o coração que foi transplantado em Louis Washkansky em 1967 na cidade do Cabo, na 1ª operação de transplante cardíaco realizado com êxito. Era um trabalho muito delicado. O coração doado teria que ser retirado e preservado com o máximo cuidado. Naky era o 2º homem mais importante na equipe que fez o 1º transplante cardíaco da história. Porém, não podia aparecer porque era um negro no país do Apartheid.

O cirurgião chefe do grupo, o branco Christian Barnard, transformou-se numa celebridade instantânea, mas Hamilton não podia sair, sequer, nas fotografias da equipe. Quando, por descuido, apareceu numa o Hospital informou que era um empregado de limpeza.

Naky usava máscara e bata, porém jamais estudara medicina pois abandonara a escola aos 14 anos de idade.

Era jardineiro na Escola de Medicina da Cidade do Cabo. Começou por limpar as jaulas dos animais sujeitos às experiências médicas, porém a sua curiosidade inteligente permitiu-lhe aprender depressa a técnica cirúrgica, vendo os médicos brancos praticarem os transplantes em cães e porcos.

Transformou-se num cirurgião tão excepcional que o Dr. Barnard o requisitou para a sua equipe.

Era um problema para as leis sul africanas pois, na sua qualidade de negro, não podia operar pacientes nem tocar em sangue de brancos.

No entanto, o Hospital, considerava-o tão valioso que abriu uma excepção e transformou-o num cirurgião… clandestino.

Porém, nada disso o incomodava e ele seguiu sempre estudando e dando o melhor de si não obstante a descriminação de que era vítima. Simplesmente, ele era o melhor. Dava aulas aos estudantes brancos mas ganhava o salário de técnico de laboratório que era o máximo que o Hospital podia pagar a um negro.

Vivia numa barraca sem luz eléctrica nem água corrente num gueto da periferia como correspondia a um negro.

Durante 40 anos ensinou cirurgia e retirou-se com a pensão de jardineiro, de 275 dólares mensais.

Terminado o Apartheid, concederam-lhe uma condecoração e o título de Médico Honoris Causa.

Ao longo da sua vida nunca reclamou das injustiças de que foi vítima.

… há homens assim, que estão acima da sua condição de simples mortais… deslumbram-nos, são
o nosso orgulho.

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