quinta-feira, fevereiro 25, 2010


O DILEMA

DOS
MADEIRENSES

Quando via a ilha da Madeira a sensação que me transmitia era a de ser demasiado bonita, pequena e inclinada para tanta gente lá viver.

Aquelas encostas estão completamente salpicadas de casas e a parte baixa e centro da cidade do Funchal, muito pequena para suportar tantas construções e Obras Públicas como se, atrás de si, não pairassem, belas mas ameaçadoras as vertentes da montanha.

O perigo e a beleza, mais uma vez, de mãos juntas.

Aquela ilha, como de resto todas as pequenas ilhas, no Atlântico, Pacífico ou no Índico deveriam ser locais apenas para conservar e visitar com todo o cuidado e respeito.

Daqui, o dilema dos madeirenses entre viver cada vez em maior número na sua terra e transformá-la num local de risco, ou restringir essa ocupação apenas aos locais que ofereçam maiores garantias de segurança naquelas encostas lindas mas ameaçadoras.

Poderíamos encontrar uma lei estabelecida pela natureza própria das ilhas:

- Habitarão numa ilha tantas pessoas quantas ela possa alimentar.

No entanto, uma política de desenvolvimento económico com base no turismo para vender as belezas naturais parece intuitiva, lógica, óbvia porque quando a beleza daquela ilha não se vender, então, nada se venderá em termos turísticos.

Os naturais arranjaram emprego nas unidades hoteleiras, muitos deles, casais que com dois ordenados, não tiveram grande dificuldade em obter empréstimos à habitação permitindo que centenas deles que, de outra forma, estariam condenados à emigração se fixassem definitivamente na sua terra.

Com o dinheiro ganho na indústria turística e os apoios financeiros do Governo Central, da Comunidade Europeia e dos emigrantes, a ilha transfigurou-se, tantas as obras públicas. Não deixou de ser bela porque muita dessa beleza é indestrutível mas transfigurou-se… de “coisa da natureza” passou também a “outra coisa” pensada para turistas ricos, gordos e comodistas.

Alberto João Jardim fica possesso quando lhe puxam a conversa do ordenamento do território: grita, ameaça, quase que explode: “tudo foi feito na legalidade”… esquecendo-se de acrescentar que ele é a “legalidade”.

A Madeira é a única região do país onde não existe Reserva Estratégica Nacional (REN), que proíbe, por exemplo, a construção em leito de cheia. O Governo Regional (leia-se Alberto João) nunca transpôs as regras de gestão do território. Especialistas defendem que com a REN os danos poderiam ter sido minimizados na tragédia que assolou a ilha.

Não admira, pois, que fique possesso quando agora lhe falam nas questões do ordenamento do território…

Os madeirenses têm votado massivamente, anos e anos seguidos, nele e na sua política. Esmagadoramente estão de acordo com tudo quanto ele mandou fazer na Madeira e não o podem acusar sem se acusarem a eles próprios.

A vida é assim mesmo, há que optar:

- De um lado o progresso, a criação de riqueza, os empregos, as casas, as auto-estradas, os viadutos, aquedutos, teleféricos e um aeroporto moderno e seguríssimo.

_ Do outro, aquela ilha quase intocada que conheci em 1962 em que o olhar apenas e só se entretinha e deslumbrava com as “coisas da natureza”.

- Então, mas não haveria um meio-termo?

- E o Dr. Alberto João é, por acaso, homem de meios-termos?

Agora vão “chover” milhões na Madeira e teimoso como é, Alberto João, vai repor tudo como estava com excepção das vidas que se perderam para sempre.

Sabe-se lá daqui a quantos anos voltarão a cair, numa hora, 52 litros de água por metro quadrado… então, voltarão a morrer mais pessoas, muitas delas em consequência das opções tomadas… é o preço.

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