domingo, abril 25, 2010




A IGREJA E A
SEXUALIDADE



As paróquias da Baixa e do Chiado, na cidade de Lisboa, estão a distribuir um panfleto de preparação para a confissão cujo título, na capa, é: “Sacramento de penitência e da reconciliação”.

Neste panfleto pode ler-se que um dos pecados graves de que os crentes se devem penitenciar diz respeito à sua vida sexual colocando ao leitor as seguintes questões:

- Guardais castidade?
- Consentis em maus pensamentos?
- Participeis em conversas indecentes?
- Praticais alguma acção grave contra a castidade (masturbação, relações sexuais fora do casamento, leitura, audição ou visionamento de material pornográfico, práticas homossexuais)?

Estas são as primeiras questões que as pessoas devem colocar a si próprias para “obterem a reconciliação com Deus e com a Igreja”.

A seguir vêm outras questões tendo em vista igualmente a tal “reconciliação com Deus e a Igreja” como sendo:

- Praticaste alguma falta contra os direitos sagrados da vida tais como: homicídio, aborto, eutanásia, violência contra os outros, suicídio tentado ou planeado, uso de drogas, abuso de álcool, condução imprudente e sistemática, riscos desnecessários e excessos tomados por aventureirismo ou bravata, ou qualquer acção que represente violação do 5º mandamento da lei de Deus”.

… podiam, mais simplesmente, ter resumido perguntando às pessoas se cumpriram as Leis e Regulamentos incluindo o Código das Estradas.

O destaque que é conferido à sexualidade e às práticas homossexuais colocando-as em paridade com crimes gravíssimos como o homicídio, despertou reacções indignadas quando, a própria lei, já autorizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

A Igreja continua ainda a revelar, em certos sectores, que tem pelas coisas do sexo uma aversão, espécie de paranóia que vem de longe e teima em se manter, mesmo num momento muito delicado dada a revelação pública de inúmeros casos de pedofilia por todo o mundo católico com encobrimento por parte de Bispos, seus mais altos responsáveis.

Não esqueçamos que Jesus, segundo a doutrina, não teve direito a um pai para que pudesse ter sido concebido “sem pecado”, por sua mãe, “virgem” Maria.

Ou seja, o acto da procriação é um pecado (esta, sim, verdadeira heresia…) e para que a humanidade não se extinguisse os senhores da Igreja permitiram que as relações sexuais fossem aceites, sabe-se lá com que relutância, dentro do casamento, presume-se que o canónico.

Por quê esta aversão, este ódio/atracção, pelo sexo? Esta relação com o seu quê de patológica foi agravada pela insensata decisão da obrigatoriedade ao celibato dos padres, decisão esta tomada no Concílio de Nicéia em 326. Voltaremos a este Concílio num próximo texto porque ele também ajuda a explicar aspectos importantes de uma decisão tão contra-natura.

- O poder do sexo desafia o poder da fé. São duas forças tremendas, podendo ser destruidoras dentro de nós: pelo amor e pela fé se mata e se morre.

Para garantir a reprodução, os processos de selecção da natureza “criaram” o amor que torna irresistível a aproximação e a união entre as pessoas de sexos diferentes (e não só) com vínculos mais fortes, demasiado fortes por vezes, nos primeiros anos, para assegurarem a concepção e o apoio aos filhos nos primeiros tempos de vida. Leia-se, a respeito desta matéria, o que a antropóloga e investigadora americana Helen Fisher tem para nos ensinar.

Para garantir a sobrevivência os processos de selecção desenvolveram, também, o mecanismo do acreditar, já aqui explicado pelo autorizado Prémio Nobel, Richard Dawkins, de que as religiões, mais tarde, se aproveitaram (“danos colaterais”) e a que chamaram fé.

O Amor e o Acreditar são dois espaços dentro do nosso cérebro, duas forças potencialmente explosivas que podem servir projectos de felicidade ou de destruição.

Desde muito cedo que alguns homens perceberam o poder e a força da necessidade de acreditar e daí à criação, primeiro de simples Crenças e depois das Religiões, foi um passo. À necessidade de acreditar chamaram-lhe fé e colocaram-na ao serviço dos seus objectivos: controlar as mentes, dominar os seus semelhantes, colocá-los na sua esfera de obediência.

O sexo não é bem visto pela Igreja. Ela trata-o mal, tem-lhe aversão, condena-o porque ele é uma fonte de prazer e de felicidade, de todas a mais forte, e pode conduzir o homem à sua realização: “Se eu sou feliz pelo amor com outra pessoa não preciso de mais nada”… e isto não agrada à Igreja.

A Igreja também fala de amor e felicidade porque são aliciantes demasiado sedutores para que não constituam argumentos de atracção mas, no fundo, as Igrejas não estão interessadas na felicidade dos homens, apenas no seu controle e domínio.

Esta maneira de sentir que permite a uma pessoa desfalecer de prazer e felicidade nos braços de outra pessoa amada, levanta invejas à Igreja. Ela também quer as pessoas felizes… mas ajoelhadas, em contemplação, se possível em êxtase, prontas e dóceis aos pés de uma imagem, à mercê dos senhores da Igreja.

Conseguem até, tal a força da necessidade de amar, levar os seus súbitos a paixões de uma vida inteira pela imagem de um homem ou de uma mulher que eles fizeram santos e que por amor se lhes dedicam em recolhimento e clausura.

Mas, para que a confusão seja maior no espírito dos crentes misturam, de forma envergonhada, sexo e doutrina:

- “As núpcias cristãs supõem sempre uma intimidade e uma cumplicidade com Jesus Cristo que só é plena se for do casal” ...consorciado aos pés do altar, acrescento eu, fazendo-me lembrar a velha estratégia de que: se não podes vencer o inimigo alia-te a ele.

O óptimo, para a Igreja, seria que todos casássemos com Deus. Repare-se, que os três primeiros mandamentos, que não são primeiros por acaso mas porque a doutrina os considera prioritários, são:

1º Amar a Deus sobre todas as coisas;

2º Não tomar seu Santo Nome em vão;

3º Guardar Domingos e Festas de guarda;

A "tradução" desta prioridade é que nós “nascemos para amar e servir Deus” e eu concluo que, na prática, isto significa que as pessoas, na óptica da doutrina, nascem para servir e obedecer aos homens da Igreja… e isto porque Deus nunca se nos apresentou e muito menos nos disse o que pretendia de nós.

Resta-nos, e não é pouco, as armas da razão, da inteligência, e do bom senso para controlarmos as nossas vidas com as nossas saudáveis emoções. Apesar de tudo, com elas, conseguimos ultrapassar até hoje todos os obstáculos e vicissitudes… como será no futuro?

- Ganharemos nós ou as “Al-Qaedas” de todo o mundo?

Site Meter