O Mistério
da Fé (II)
Já vimos que fé, designada pela igreja, como “mistério”, não passou de mais um processo de selecção, comum à evolução dos seres vivos e primeiramente explicado por Charles Darwin. De resto, na vida, não há mistérios: há coisas que sabemos, outras que não sabemos e chamar a estas de “mistérios” é, no mínimo, tendencioso.
As crianças, filhas dos nossos antepassados remotos que tinham maior propensão para acreditarem nos conselhos e advertências dos pais e dos mais velhos morriam menos e por isso, entre os descendentes, geração após geração, foram aumentando progressivamente o número dos que acreditavam até que, finalmente, éramos todos crentes.
Foi uma estratégia bem sucedida mas que se revelou perigosa porque quem acredita no “bom” acredita no “mau” e as crianças não têm condições para fazerem essa destrinça. Os líderes religiosos estão conscientes da vulnerabilidade do cérebro das crianças e da importância destas serem doutrinadas em tenra idade.
O alarde jesuíta “dai-me a criança durante os sete primeiros anos e eu dar-vos-ei o homem” não é menos exacto ou sinistro por ser já uma frase batida.
James Dobson, fundador do famigerado movimento Focus on the Family, mostra que também conhece bem o princípio:
- “Aqueles que controlam o que é ensinado aos mais novos e aquilo que eles experienciam – o que vêm, ouvem, pensam e crêem – irão determinar o futuro da nação”.
Esta vulnerabilidade a que ficam sujeitas as crianças que não têm forma de distinguir os bons dos maus conselhos, constitui um subproduto de uma solução, que em termos evolucionistas, terá sido fundamental para a nossa sobrevivência.
Temos na natureza outros casos de subprodutos de óptimas soluções para a sobrevivência:
- As borboletas da traça orientam-se pelos raios luminosos da lua para encontrarem o caminho de casa. Como a lua está no infinito óptico os seus raios são paralelos o que lhes permite servir de bússola aos olhos da traça. Mas se o objecto de luz estiver próximo, os raios já não serão paralelos mas divergem como os raios de uma roda e, nestas condições, o sistema de orientação que estava correctamente concebido deixou de funcionar conduzindo as borboletas directamente contra a chama das velas naquilo que parece ser um aparente suicídio.
Se, na história da humanidade, uma eventual guerra santa tivesse colocado metade da humanidade contra a outra metade e nessa guerra tivessem morrido todos os homens, hipótese meramente académica mas verificada muitas vezes no passado em escalas menores, a mesma solução que teria permitido a vida estaria agora na origem do desfecho fatal.
Este mecanismo do acreditar, o tal “mistério da fé” para a Igreja, é um dispositivo que se assemelha a um computador que fazem o que lhes mandam, obedecem cegamente a quaisquer instruções transmitidas através da linguagem da programação… e esta pode ser para coisas boas: “processamento de folhas de cálculo” ou para coisas erradas. O computador não tem forma de saber se uma dada instrução vai produzir um bom ou mau resultado, limitam-se a obedecer tal como se espera que faça um soldado. É esta obediência incondicional que torna os computadores úteis e é precisamente por isso, também, que eles se tornam totalmente vulneráveis a infecções de vírus e vermes de software. É assim o cérebro de uma criança e disso se aproveita a religião que lhes inscreve, através da repetição até à exaustão dos seus dogmas: “reza vinte Ave-Marias, trinta Pais-Nossos e…” sem que a criança tenha oportunidade ou possibilidades de elaborar um pensamento crítico ou pedir uma simples explicação… aquelas pessoas têm apenas a preocupação de o formatarem, não estão lá para o ensinarem a pensar, o seu objectivo é a construção de um homem obediente e totalmente disciplinado, pelo menos relativamente à doutrina religiosa que não tem discussão nem crítica porque, na verdade, não pode ter.
A morte põe termo à vida… mas Jesus ressuscita. Todos nós somos filhos de um pai e de uma mãe… Jesus é filho de Maria e da intervenção do Espírito Santo. Há um tribunal no céu que castiga os maus enviando-os para o Inferno e premeia os bons com o Paraíso, deixando no meio uma coisa chamada de Purgatório que é uma espécie de ante-câmara para os candidatos ao Paraíso que ainda não satisfazem todas as condições. Enfim, digamos que é necessária muita fé… a que está faltando a muitos católicos que apesar de continuarem a ir à missa já não acreditam na vida depois da morte.
Para terminar, uma pequena história de Hitchcock:
- Diz-se que Alfred Hitchcock, o grande especialista cinematográfico na arte de assustar pessoas, ia certa vez de viagem pela Suiça quando de repente apontou pela janela do carro e disse:
-“Eis o espectáculo mais assustador a que alguma vez assisti”. Era um padre a conversar com um rapazinho, com a mão sobre o ombro deste. Hitchcock pôs a cabeça de fora da janela do carro e gritou:
- “Foge, miúdo! Foge ou estás perdido!”
- “Foge, miúdo! Foge ou estás perdido!”
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