terça-feira, maio 25, 2010

DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 128



Gastou Marilda inutilmente os seus sorrisos, não foi correspondida. Saía porta fora em direcção ao Largo ou bem para sentar-se cismarenta na balaustrada do pátio da igreja de Santa Tereza – sítio tão ideal para declaração e juras de amor jamais existiu nem existirá, assim idílico, com o céu tão próximo e azul, o mar lá em baixo verde escuro, as paredes seculares do templo e ainda com certeza, a compreensiva bênção de dom Clemente para qualquer esquivo beijo herético.

Não a seguira no entanto o Príncipe, nem para o túmulo do Largo, nem para a paz e o silêncio do mirante sobre as águas. Não abandonava o poste, como se tivesse a ele acorrentado, os olhos fixos nas venezianas da escola.

Ora, se tão pouco era Marilda o alvo dos seus suspiros, a quem atribui-lo senão a dona Flor?

Assim concluíram comadres e amigas e até Marilda, apesar da sua pouca idade e experiência:

- Eu acho que ele está de olho é em você, Flor.

- Em mim? Tu está doida?...

Dias depois, indo ela de compras com dona Norma pelas lojas da Rua Chile, ele as acompanhara tomando o mesmo bonde, a fumar cigarro sobre cigarro e a sorrir tão terno e precisado de carinho. Dona Norma até quase se zanga ao dar-se conta, imaginando dona Flor com segredos para ela.

Muito bonito… A senhora de pretendente e não me disse nada…

- Nem sei quem é… Vive plantado faz uns dias em frente lá de casa, nunca vi mais gordo antes, pensei que fosse alguma aluna, mas vi que não. É com Marilda, que eu disse e parecia, mas também não era. Até a pobrezinha ficou triste. Não sei que diga…

Na maior das excitações, dona Norma examinou o janota em longos e ostensivos olhares, que ela pensava discretíssimas miradas de relance.:

- Bonito pra burro… Só que parece um tanto moderno demais… e após novos olhares, rectificando: - Não é tão moderno como aparenta e, para dizer a verdade é bonito demais para o meu gosto…

- Bonito ou feio não me interessa…

Saltaram do bonde, o tipo atrás. Num átimo, dona Norma traçara complicado itinerário capaz de pôr a limpo se o desmilinguido vinha ou não no rastro delas. Logo ficou patente e claro. Sem tentar aproximar-se nem lhes dirigir a palavra, mantendo-se a prudente distância com o seu sorriso coquette e o olhar súplice, não as perdera de vista um só instante

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