quinta-feira, julho 08, 2010


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

EPISÓDIO Nº 166


- Meninas… Só vendo para crer…

O desfile prosseguiu para a Piedade, elas o acompanharam. Mas, pretextando a necessidade de transmitir um recado, dona Norma encompridou o caminho, dando a volta por uma rua detrás: “vamos botar isso em pratos limpos agorinha mesmo”. Por um minuto, doutor Teodoro permaneceu indeciso, à sombra do relógio monumental, terminando, porém, por acompanhá-las num passo monchalante de quem vai sem pressa e por acaso, a locé.

Dona Norma a as demais amigas prendiam o riso, menos dona Flor, de tudo inocente, e dona Gisa, a discorrer sobre a “vocação dos jovens para a causa pública”. De repente pararam, indo dona Norma dar o tal recado, na porta de uma casa de família. Tomado de surpresa, a poucos metros de distância, doutor Teodoro foi obrigado a prosseguir caminho. Passou junto às amigas evitando fitá-las, fingindo não vê-las e era tão pouco experiente nessas coisas que dava pena: todo escabreado, a adivinhar sorrisos e olhares de mofa, sem saber onde por as mãos, um desastre. Encafifou, enveredou pela esquina quase correndo. À sua passagem, dona Maria do Carmo não se conteve, deixando escapar um frouxo de riso.

- Psiu… - recomendava dona Norma.

- Para onde vai doutor Teodoro tão apressado? Quis saber dona Flor, ao vê-lo sumir no beco.

- Quer dizer que você não sabe, minha sonsa? Que negócio é esse? Vai manter segredo ou vai contar às suas amigas? Ou não tem confiança?

- O quê, mulher? Vocês vivem inventando coisas… Dessa vez o que é?

- Não venha dizer que ainda não percebeu…

- O quê, por amor de Deus?

- Que o doutor Teodoro está caidinho por você…

- Quem? O farmacêutico? Vocês estão de miolo mole, são uma cambada de malucas… Onde já se viu… Logo doutor Teodoro, homem mais cerimonioso… É um debique…

- Debique? Ele perdeu a cerimónia, minha cara, anda espevitado…

Nesse pagode, chalaceando e rindo, foram atrás do desfile dos cascabulhos, a pobre dona Flor numa roda-viva. Mas, quando, de volta a casa, dona Norma se viu a sós com a viúva, lhe falou a sério. Reparara nos modos do farmacêutico, pessoa, como dizia com razão dona Flor, toda cheia de etiquetas, de formalidades; nunca se ouvira dizer que ele lançara olhares às clientes e muito menos houvesse seguido alguma rua fora, em mangas de camisa, a passar pente pelo cabelo, embuçando-se atrás do relógio público, em sobressaltos de adolescente. De olho fixo em dona Flor, não desgrudava. Não era conversa fiada de comadres, nem invenção, dona Norma até se mantivera à parte das caçoadas, pois sendo doutor Teodoro homem de bem e circunspecto, não
valia a pena tratar
levianamente assunto tão sério, em chalaças e galhofas.

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