terça-feira, agosto 03, 2010




ENTREVISTAS




FICCIONADAS




A JESUS CRISTO

Entrevista Nº 49



Tema"Até que a morte nos separe"



Raquel – De Nazaré, Emissoras Latinas, cobrindo a 2ª vinda de Jesus Cristo à terra. As suas opiniões despertam um interesse crescente na nossa audiência. A cada dia chegam-nos novas perguntas para que as façamos chegar ao senhor, Jesus Cristo.

Jesus - À vontade, Raquel. Faz as perguntas que tiveres que fazer.

Raquel – Vamos a esta… Vários ouvintes querem saber se os seus apóstolos estavam ou não casados…

Jesus – Que me recorde, todos estavam casados, todos tinham mulher e filhos… Não sei se alguns se casaram mais de uma vez… Os homens casavam-se muito jovens e se enviuvassem casavam outra vez…

Raquel – E divorciavam-se?... Não, claro, não se podiam divorciar!

Jesus – Claro que podiam. No meu tempo, a lei religiosa permitia o divórcio.

Raquel – Então, foi o senhor que mudou essa lei, proibiu o divórcio e estabeleceu que o matrimónio é indissolúvel para toda a vida? O senhor diz: “Até que a morte os separe”.

Jesus – Como dizes que eu disse?

Raquel – “Aquilo que Deus uniu o homem não separa”

Jesus – Não, estás equivocada. O que eu disse foi: “O que Deus uniu que não o separe o varão”. Eu não estava contra o divórcio mas contra isso a que tu no outro dia chamaste…

Raquel – Machismo.

Jesus – Isso. No meu tempo os homens eram… eram um império. Repudiavam as mulheres por qualquer motivo. Se queimavam as lentilhas, se saíam à rua sem a sua autorização, se falavam com o vizinho… divorciavam-se. Eu não estava contra o divórcio mas sim contra o machismo!

Raquel – Então o senhor estaria de acordo em que um casal tendo conflitos, conflitos graves, entenda-se, esse casal pode divorciar-se?

Jesus – Sim, mas o divórcio não pode ser um capricho do marido.

Raquel – Nem da mulher, tampouco.

Jesus – É evidente que não. Devem conversar entre os dois e decidir entre eles. Se vêm que não conseguem ser felizes será melhor separarem-se.

Raquel – E depois do divórcio está o senhor de acordo que voltem a casar?

Jesus – Por que não? A vida prossegue e Deus é vida.

Raquel – E os filhos? Não é terrível para os filhos ficarem sem pai ou sem mãe porque decidiram divorciar-se?

Jesus – Sim, é terrível mas eu creio que seria pior para os filhos assistirem aos conflitos, ódios e maus exemplos em casa, não te parece?

Raquel – E uma mulher que recebe pancada, maus-tratos, que deve fazer? Dar a outra face? Rezar para que o homem mude. Aguentar para salvar o casamento?

Jesus – Não, salvar-se a ela. Essa mulher deve sair, ir-se embora e não voltar para trás.

Raquel – Confesso-lhe, Jesus Cristo, que sinto um grande alívio. Como algo de pessoal, dir-lhe-ei que tive um marido… insuportável, conflituoso. Tive que separar-me. Creio que muitas das nossas ouvintes também se sentirão aliviadas.

Jesus – E por isso entenderão o que eu digo. Nem imaginas o que custou a fazer entender isto a Santiago, a João, a André… e especialmente a Pedro que foi o mais difícil de todos eles, por isso lhe chamei de Pedra!... Teimoso, agarrado às suas ideias, um grande machista.

Raquel – Será por isso que o Papa de Roma, que diz ser o herdeiro de Pedro, é tão duro para com as mulheres? (Muito recentemente o pecado de ordenação das mulheres foi equiparado, em gravidade, ao da pedofilia).

Que pensam os senhores, amigos, e em especial amigas de Emissoras Latinas?

Raquel Perez, desde a Nazaré.


NOTA

Um Casamento Muito Desigual – As leis e os costumes sobre o casamento no tempo de Jesus Cristo eram muito desiguais e levavam a marca do machismo numa sociedade eminentemente patriarcal.

Até aos 12 anos a menina estava sobre o poder do pai e a partir dessa idade já se podia casar. Seu pai, geralmente, decidia com quem. O casamento não era mais do que um trespasse formal da jovem do poder do pai para o poder do marido.

Na situação de casada, a mulher tinha direito a ser sustentada pelo marido e obrigada a cumprir com todas as tarefas domésticas e obedecer ao esposo com uma submissão entendida como um dever religioso. Mas dois direitos do marido desequilibravam completamente a relação:

- O direito de ter as amantes que quisesse no caso de as poder sustentar;

- O direito ao divórcio dependia completamente da sua vontade.


Causas do Divórcio ao Tempo de Jesus – Em Israel, à época de Jesus, o que estava em causa não era o direito ao divórcio: a Lei de Moisés permitia repudiar a esposa. O que estava em questão eram as razões que permitiam ao marido repudiar a esposa, ou seja, os motivos legais do divórcio.

Havia, sobre esta lei duas correntes de interpretação: os que entendiam que somente causas graves – o adultério, principalmente – devia servir de base ao divórcio por parte do homem; e outros, para quem bastavam razões mínimas como as que foram enunciadas na entrevista de Jesus. Na prática, foi esta última que prevaleceu com a agravante de que se a mulher quisesse casar novamente precisava da autorização do ex-marido.

Na realidade, a mulher repudiada pelo marido ficava numa situação de total abandono com muitas escassas oportunidades de sobreviver sem depender de um homem.

Indissolúvel… mas Anulável – A Igreja Católica considera todo o matrimónio indissolúvel interpretando a frase de Jesus no Evangelho de Mateus como uma proibição e condenação do divórcio.

O Código Canónico não só proíbe a quem se case pela Igreja e divorcie pelo civil de voltar a casar em cerimónia pela católica, como também fica proibida de receber a comunhão na missa por viver em pecado.

Em 2002, o Papa João Paulo II, insistiu nesta doutrina:

- “Considerar a indissolubilidade não como uma norma jurídica natural, mas como um ideal, desvirtua o sentido da inequívoca declaração de Jesus Cristo que recusou em absoluto o divórcio porque “ao princípio não foi assim” (Mateus 19, 8).

No entanto, para o Vaticano, os matrimónios indissolúveis são anuláveis no sentido de que “nunca existiram” e as razões são tantas que, na realidade, qualquer razão serve para obter a nulidade: realizou-se debaixo de violência; por medo dos pais; por impotência do cônjuge; por homossexualidade; o consentimento foi insuficientemente demonstrado; o cônjuge ocultou que não era virgem… e ultimamente apareceram as sogras…Excessiva dependência de um dos cônjuges da sua mãe.

As sentenças de anulação são outorgadas pelo Tribunal da Rota Romana, um dos mais antigos do mundo, Séc. XIV.

O custo médio para uma anulação de matrimónio, que autoriza que de novo as pessoas a casarem-se pela Igreja, é de cerca de 2.500 para o advogado, 260 para o fiscal além de outras despesas.

Os processos duram cerca de dois anos e em 2007 estavam pendentes de sentença 1679 casos. No ano anterior haviam sido emitidas 172 sentenças de nulidade de matrimónio.

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