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“Ascensão” e “Assunção” (2)
Se Não Houvesse Morte…
No seu livro as “Intermitências da Morte” o Prémio Nobel José Saramago cria uma trama surpreendente. Num país qualquer ocorre algo de insólito: a morte decide suspender o seu trabalho e toda a gente deixa de morrer.
Inicialmente, isto causa euforia mas depressa sobrevém o caos e o desespero. Se não há morte, não há tempo e então haverá para todos uma velhice eterna que depressa se torna insuportável. No desespero de uma situação que não conseguem administrar nem assimilar, todos procuram formas, correctas e dúbias, compassivas e “mafiosas” para conseguir que a morte regresse. Até que um dia a morte decide reaparecer… A reflexão que resulta deste ousado argumento pode ajudar-nos a entender o sentido da morte na nossa limitada vida.
Ascensão e Assunção “aos céus”
Quando o cristianismo tradicional afirma que, ao morre, o corpo destrói-se e a alma imortal entra na vida eterna, está a estabelecer uma hierarquia em que o corpo aparece inferior, de menor valor. Esta ideia de superioridade do espírito sobre o corpo que atravessa toda a tradição cristã, teve consequências negativas de todo o tipo, mas não provém de Jesus para quem o corpo é o Templo de Deus e o divino não está acima nem fora do humano.
Os dogmas católicos da Ascensão de Jesus aos céus e a Assunção de Maria, sua mãe, a esses mesmos céus, tentam equilibrar a arreigada ideia católica do desprezo pelo corpo, estabelecendo um privilégio especialíssimo para, pelo menos, dois corpos humanos.
Assunção: Um Dogma de Fé
A tradição de um Deus “acima”, habitando no céu longínquo, é central na doutrina oficial católica. Em Novembro de 1950, Pio XII, falando “ex-cátedra”, na sequência da doutrina papal do século anterior, que era falar infalivelmente – proclamou o dogma da Assunção de Maria “ao céu” com estas categóricas palavras:
- “Declaramos, promulgamos, e definimos que é um dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus, Maria Sempre Virgem, ao terminar a sua vida terrena foi levada à glória celestial em corpo e alma. Portanto, se algum se atreve (Deus não permite) a negar voluntariamente ou a duvidar do que foi definido por nós, será definitivamente afastado da fé divina católica”.
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