DONA FLOR
E SEUS DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 220
Dona Norma assumira o comando da turma de busca e salvamento, assistida por dona Gisa. Arrancaram seu Zé Sampaio da cama (fulo de raiva) e partiram rumo à assistência pública, à polícia, ao necrotério.
Ao ver a filha, dona Maria do Carmo abraçou-se nela, a acarinhá-la num choro convulsivo. Choravam as duas e se beijavam em mútuos pedidos de perdão. Agastado, doutor Teodoro retirou-se, quase brusco pois, mesmo contrariando dona Flor, apoiara dona Maria do Carmo em sua primeira e implacável disposição de aplicar na fugitiva uma surra daquelas, de criar bicho.
Tentou demovê-la dona Flor, ganhá-la para a causa de Marilda; também ela, quando mocinha, tomara daquela medicina e de nada lhe servira o tratamento. Por que se obstinava dona Maria do Carmo em contrariar a vocação da filha?
Que vocação nem meia vocação! Doutor Teodoro veio em apoio da viúva, a menina precisava de uma lição que lhe pusesse o juízo em ordem e lhe ensinasse a obedecer. Chegaram quase a se exaltar, marido e mulher, um e outro intransigentes: dona Flor na defesa de Marilda, pobrezinha! Doutor Teodoro na defesa dos princípios, dos deveres dos filhos ante os pais, causa sagrada. Mas não levaram adiante a discussão, pois logo o doutor se controlou e disse:
- Minha querida, você tem a sua opinião e eu a respeito sem com ela comungar, Eu tenho a minha nela fui educado, é a que me serve, fiquemos cada um com a sua opinião. Mas não vamos discutir por isso, já que não temos filhos – e não os teremos – poderia acrescentar, pois, ainda noivo, dona Flor lhe revelara a sua infecunda condição.
Não restou entre eles rastro de azedume, ambos curvados sobre a dor da viúva a pedir a morte se a filha não chegasse logo.
Chegou Marilda e foi o que se viu. Doutor Teodoro vencido, retirou-se. Saíram também dona Amélia e dona Êmina, permanecendo apenas dona Flor com a mãe e a filha e já estava o caso resolvido, de uma vez e para sempre: Marilda conquistara o suficiente para garantir o acordo, a bênção materna aos planos da futura estrela, e logo foi encontrar na sala de visitas o seu compadre Mirandão.
- Meu compadre por que sumiu e não mais apareceu? Nem você nem a comadre com o menino? Que foi que eu fiz para tanto lhe ofender? Pergunto mesmo antes de lhe agradecer o bem que fez a Maria do Carmo e a Marilda. Por que brigou comigo?
Não briguei, por que havia de brigar, minha comadre? Se não tenho aparecido é porque tenho andado numa roda viva…
- Só por isso, por ocupado? Me desculpe meu compadre mas não creio.
Mirandão fitou a noite transparente, o céu distante:
- Minha comadre sabe: entre marido e mulher ninguém se deve meter, até uma sombra, até uma lembrança pode ser ruim. Sei que minha comadre vive contente, anda por cima, isso é que eu desejo. Bem merece tudo isso e muito mais. Nem por eu não aparecer é menor a nossa amizade.
Era verdade, dona Flor sorriu e andou para junto do compadre:
- Tem uma coisa que desejo lhe pedir:
- Mande, não peça, minha comadre…
MARIDOS
Episódio Nº 220
Dona Norma assumira o comando da turma de busca e salvamento, assistida por dona Gisa. Arrancaram seu Zé Sampaio da cama (fulo de raiva) e partiram rumo à assistência pública, à polícia, ao necrotério.
Ao ver a filha, dona Maria do Carmo abraçou-se nela, a acarinhá-la num choro convulsivo. Choravam as duas e se beijavam em mútuos pedidos de perdão. Agastado, doutor Teodoro retirou-se, quase brusco pois, mesmo contrariando dona Flor, apoiara dona Maria do Carmo em sua primeira e implacável disposição de aplicar na fugitiva uma surra daquelas, de criar bicho.
Tentou demovê-la dona Flor, ganhá-la para a causa de Marilda; também ela, quando mocinha, tomara daquela medicina e de nada lhe servira o tratamento. Por que se obstinava dona Maria do Carmo em contrariar a vocação da filha?
Que vocação nem meia vocação! Doutor Teodoro veio em apoio da viúva, a menina precisava de uma lição que lhe pusesse o juízo em ordem e lhe ensinasse a obedecer. Chegaram quase a se exaltar, marido e mulher, um e outro intransigentes: dona Flor na defesa de Marilda, pobrezinha! Doutor Teodoro na defesa dos princípios, dos deveres dos filhos ante os pais, causa sagrada. Mas não levaram adiante a discussão, pois logo o doutor se controlou e disse:
- Minha querida, você tem a sua opinião e eu a respeito sem com ela comungar, Eu tenho a minha nela fui educado, é a que me serve, fiquemos cada um com a sua opinião. Mas não vamos discutir por isso, já que não temos filhos – e não os teremos – poderia acrescentar, pois, ainda noivo, dona Flor lhe revelara a sua infecunda condição.
Não restou entre eles rastro de azedume, ambos curvados sobre a dor da viúva a pedir a morte se a filha não chegasse logo.
Chegou Marilda e foi o que se viu. Doutor Teodoro vencido, retirou-se. Saíram também dona Amélia e dona Êmina, permanecendo apenas dona Flor com a mãe e a filha e já estava o caso resolvido, de uma vez e para sempre: Marilda conquistara o suficiente para garantir o acordo, a bênção materna aos planos da futura estrela, e logo foi encontrar na sala de visitas o seu compadre Mirandão.
- Meu compadre por que sumiu e não mais apareceu? Nem você nem a comadre com o menino? Que foi que eu fiz para tanto lhe ofender? Pergunto mesmo antes de lhe agradecer o bem que fez a Maria do Carmo e a Marilda. Por que brigou comigo?
Não briguei, por que havia de brigar, minha comadre? Se não tenho aparecido é porque tenho andado numa roda viva…
- Só por isso, por ocupado? Me desculpe meu compadre mas não creio.
Mirandão fitou a noite transparente, o céu distante:
- Minha comadre sabe: entre marido e mulher ninguém se deve meter, até uma sombra, até uma lembrança pode ser ruim. Sei que minha comadre vive contente, anda por cima, isso é que eu desejo. Bem merece tudo isso e muito mais. Nem por eu não aparecer é menor a nossa amizade.
Era verdade, dona Flor sorriu e andou para junto do compadre:
- Tem uma coisa que desejo lhe pedir:
- Mande, não peça, minha comadre…
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