DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Para manter o equilíbrio… Esses remédios novos… Que equilíbrio, minha senhora? – e sorria gentil como se achasse perda de tempo e de dinheiro aquele tratamento de injecções.
- Dos nervos, seu doutor. Sou tão sensível, o senhor nem sabe.
Tomava ele das agulhas com uma pinça, retirando-as da água quente, atento ao transpor o líquido para a seringa, calmo e sem pressa, cada coisa de uma vez e em seu lugar. Um dístico, pendurado sobre a mesa de trabalho, era uma declaração de princípios claramente exposta: “Um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar”. Dona Magnólia leu, sabia de uma coisa e de um lugar, maliciosa fitou a face do doutor; homem seguro de si, um figurão!
Após encharcar em álcool um capucho de algodão, suspendeu a seringa:
- Levante a manga…
- Voz de dengue e malícia, observou dona Magnólia:
- Não é no braço não, doutor.
Ele puxou a cortina, ela suspendeu a saia, exibindo aos olhos do doutor riqueza ainda bem maior e mais soberba do que aquela exposta diariamente na janela. Era uma bunda e tanto, das de tanajura.
Nem sentiu a picada, doutor Teodoro tinha a mão leve e segura. Agradável sensação de frio lhe deu o algodão calcado contra a pele no dedo do doutor. Uma gota de álcool correu-lhe pelas coxas, ela novamente suspirou.
Uma vez mais doutor Teodoro errou na interpretação daquele doce gemer:
- Onde lhe dói?
Ainda a segurar a borda do vestido na ostentação dos quadris até ali irresistíveis, dona Magnólia fitou o preclaro personagem bem nos olhos:
- Será que não entende, que não entende nada?
Não entendia mesmo:
- O quê?
Já com raiva, ela largou a barra do vestido, cobrindo a desprezada anca, e, por entre dentes falou:
- Será mesmo cego, será que não enxerga?
A boca semi-aberta, a face parada, os olhos fixos, o doutor se perguntava se ela não teria enlouquecido. Dona Magnólia, ante tamanho monumento de estultícia, concluiu sua pergunta:
- Ou é mesmo trouxa?
- Minha senhora…
Ela estendeu a mão e tocou a face do luminar da farmacologia, e com a voz novamente em desmaio e dengue largou tudo:
- Não está vendo, tolo, que estou caída por você, babada, doidinha? Não está vendo?
Foi se aproximando, seu intento era agarrar o cauteloso ali mesmo, pelo menos em preliminares, e nem uma criança se enganaria ao vê-la de lábios estendida, de olhar em langor.
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 226
Para manter o equilíbrio… Esses remédios novos… Que equilíbrio, minha senhora? – e sorria gentil como se achasse perda de tempo e de dinheiro aquele tratamento de injecções.
- Dos nervos, seu doutor. Sou tão sensível, o senhor nem sabe.
Tomava ele das agulhas com uma pinça, retirando-as da água quente, atento ao transpor o líquido para a seringa, calmo e sem pressa, cada coisa de uma vez e em seu lugar. Um dístico, pendurado sobre a mesa de trabalho, era uma declaração de princípios claramente exposta: “Um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar”. Dona Magnólia leu, sabia de uma coisa e de um lugar, maliciosa fitou a face do doutor; homem seguro de si, um figurão!
Após encharcar em álcool um capucho de algodão, suspendeu a seringa:
- Levante a manga…
- Voz de dengue e malícia, observou dona Magnólia:
- Não é no braço não, doutor.
Ele puxou a cortina, ela suspendeu a saia, exibindo aos olhos do doutor riqueza ainda bem maior e mais soberba do que aquela exposta diariamente na janela. Era uma bunda e tanto, das de tanajura.
Nem sentiu a picada, doutor Teodoro tinha a mão leve e segura. Agradável sensação de frio lhe deu o algodão calcado contra a pele no dedo do doutor. Uma gota de álcool correu-lhe pelas coxas, ela novamente suspirou.
Uma vez mais doutor Teodoro errou na interpretação daquele doce gemer:
- Onde lhe dói?
Ainda a segurar a borda do vestido na ostentação dos quadris até ali irresistíveis, dona Magnólia fitou o preclaro personagem bem nos olhos:
- Será que não entende, que não entende nada?
Não entendia mesmo:
- O quê?
Já com raiva, ela largou a barra do vestido, cobrindo a desprezada anca, e, por entre dentes falou:
- Será mesmo cego, será que não enxerga?
A boca semi-aberta, a face parada, os olhos fixos, o doutor se perguntava se ela não teria enlouquecido. Dona Magnólia, ante tamanho monumento de estultícia, concluiu sua pergunta:
- Ou é mesmo trouxa?
- Minha senhora…
Ela estendeu a mão e tocou a face do luminar da farmacologia, e com a voz novamente em desmaio e dengue largou tudo:
- Não está vendo, tolo, que estou caída por você, babada, doidinha? Não está vendo?
Foi se aproximando, seu intento era agarrar o cauteloso ali mesmo, pelo menos em preliminares, e nem uma criança se enganaria ao vê-la de lábios estendida, de olhar em langor.
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