terça-feira, setembro 14, 2010

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Á ENTREVISTA SOB O TEMA:

“DE QUE NOS SALVA JESUS?”


O CORDEIRO SACRIFICADO

Jesus foi assassinado nos dias de Páscoa, festa tradicional do povo judeu e, na qual, o centro da celebração era uma cena de família comendo um cordeiro sacrificado no Templo de Jerusalém. A imagem do Messias como “cordeiro de Deus” tem origem nos textos proféticos, imagem essa que é assumida mais tarde no Evangelho de João e fascina Paulo, tenaz propagador da Teologia Sacrificial (1 Corintos 5,7) que amplia recorrentemente o símbolo do cordeiro.

Nas manifestações artísticas das primeiras comunidades cristãs que eram perseguidas e derramavam o seu sangue por confessarem a sua fé, Jesus foi representado muitas vezes como um cordeiro com uma aura na cabeça e ferido no peito ou degolado. Esta imagem continua sendo central no rito da Eucaristia: “Cordeiro de Deus que tiras o pecado do mundo…”

UMA TEOLOGIA EMPAPADA EM SANGUE

O Novo Testamento, especialmente Paulo, herdeiro da cultura judaica em que Deus era aplacado e honrado com o sangue derramado por cordeiros e outros animais, à semelhança, de resto, de outros cultos pagãos mais antigos em que também se sacrificavam animais para agradar aos deuses, interpretava a morte de Jesus Cristo no sentido sacrificial, ou seja: o seu sangue redime a humanidade e até hoje esta Teologia predomina no cristianismo mais tradicional.

Em vida de Jesus nada indica que ele se sentisse “cordeiro de Deus” levado pela vontade divina ao matadouro. Pelo contrário, a mensagem original de Jesus é o anúncio do Reino de Deus, a alegria das coisas se alterarem na terra, onde haverá justiça, sem mais sangue, suor, nem lágrimas derramadas injustamente.

Apesar da enorme distância a que se encontra a mentalidade de Jesus dos sacrifícios sangrentos, rapidamente o cristianismo atraiçoou Jesus.

A teóloga feminista Ivone Gebara explica-nos: “A cruz ensanguentada que deveria ter gerado uma intensa luta cristã para refrear a violência injusta, gerou a falsa ideia de que o sofrimento e o sacrifício eram necessários para nos acercarmos de Deus, para nos salvarmos”.


POR ONDE SAIR DESTA TEOLOGIA?

A Teologia do Sacrifício que tem a sua principal origem nos escritos de Paulo, consiste em pensar que o mundo é um “vale de lágrimas”, que os humanos nascem em pecado e que, sendo maus e pecadores, necessitam de “ser salvos” do mundo e dos nossos pecados, é uma consequência do “dualismo”.

O dualismo está muito presente na Bíblia e no pensamento Aristotélico que tanto influenciou a teologia cristã: é uma visão dual de tudo o que conhecemos, o que cria um abismo entre Deus e o mundo, o qual, para ser contornado precisa de sacrifícios, oferendas, mediadores lugares e ritos sagrados e, em definitivo, necessita de um salvador…

Nesta perspectiva dualista, Deus reina por cima do “todo” mas não habita no “todo”. É um criador que não habita na sua criação.


COMO SAIR DESTE DUALISMO?

Para o monge Beneditino e mestre do Budismo Zen, o alemão Willigis Jager, a saída está em abandonar a religião institucionalizada e promover a espiritualidade: “Deus não quer ser adorado, quer ser vivido”.

Jager, reconhece que a religiosidade tem diferentes níveis e a humanidade permanecerá ainda por muito tempo no nível religioso em que somente poderá imaginar tanto a salvação como a redenção através de um redentor”.

A teóloga Ivone Gebara que reflectiu com audácia sobre a “salvação” de Jesus afirma:

- “Para a comunidade cristã, Jesus é o símbolo dos seus sonhos e o símbolo do que mais intensamente se deseja para a humanidade e estes desejos vão mudando para a comunidade dos seguidores de Jesus nos diferentes contextos e momentos da história humana. A partir daqui, pode-se dizer que Jesus não é o salvador de toda a humanidade no sentido tradicional e triunfalista que caracterizou as igrejas cristãs, não é o poderoso filho de Deus que morre na cruz e se transforma em Rei que domina moralmente as diferentes culturas. É apenas o símbolo da frágil fraternidade e da justiça que estamos procurando…”

Site Meter