segunda-feira, setembro 20, 2010


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

Episódio Nº 229



- Maluca… Com que direito ela pensou que eu ia profanar o meu laboratório, abusar de uma cliente?

- No caso não era abuso, meu querido, ela mesmo é quem estava se oferecendo…

Ele baixou a voz, nunca perdera de todo a timidez ante a esposa em assuntos como aquele:

- Como poderia eu olhar para outra mulher, tendo você, minha querida?

Homem mais leal e correcto não havia, dona Flor lhe estendeu os lábios, ele a beijou de leve.

- Obrigado, Teodoro, eu penso o mesmo a seu respeito.

Na rua, nas esquinas, ao aperitivo no bar de Mendez, os homens comentavam a surra, seus motivos e efeitos. Dona Magnólia fora recolhida em casa de parentes, estava em banho de água e sal, o secreta enchera a cara de cachaça.

Seu Vivaldo da funerária levantava a questão: era ou não impotente o doutor Teodoro? Não só o afirmava a rapariga em alta voz (aliás, aos gritos), como também - vamos convir – só um cunuco seria capaz de recusa por ele imposta à tentação de Magnólia, às suas opulências. Dava para duvidar de sua macheza, isso dava. Moysés Alves, o fazendeiro de cacau, se exaltava, a defender o boticário:

- Broxa, mentira dessa sem vergonha. Homem sério, com responsabilidade, você queria que ele se atracasse com a pecadora por cima dos remédios?

Seu Vivaldo, ainda assim, permanecia crítico:

- Chuetar de um pedaço desses… Na farmácia ou onde fosse… Se ela aparecesse lá, no Paraíso em Flor, com vontade de me dar, ia mesmo ali, num ataúde…

Punha-se de acordo num detalhe. Fosse por impotente ou por austero, doutor Teodoro comportara-se mal ao expulsá-la sem lhe marcar um encontro:

- Deus dá nozes a quem não tem dentes…

Ecos dessas discussões, soltas nas esquinas e nos bares, acesas na cerveja e na cachaça, chegaram aos ouvidos de dona Flor e também os elogios gerais das vizinhas e amigas:

- Se todo marido fosse assim, valia a pena…

Indignara-se com o aleive contra o esposo e dissera a Maria Antónia, ex-aluna espalhafatosa e alcoviteira, que veio visitá-la só para futricar:

- Se alguém quiser saber se ele é homem de verdade, que venha aqui eu mando ele mostrar…

- Manda mesmo? – riu Maria Antónia em pândega e pagode.

Riu também dona Flor. Mesmo irritada com o cochicheio, não podia conter o riso ante o grotesco da situação.

Certa manhã, tempos depois, quem apareceu foi Dionísia de Oxóssi trazendo seu menino gordo para tomar a bênção à madrinha. Vinha pouco, ultimamente, de raro em raro. Contou o desgosto que tivera ao descobrir um arranjo de mulher na vida do marido. Cortando estrada com caminhão, fazendo pouco aqui e ali, se metera ele com uma tipa em Juazeiro. Dionísia fora no rastro de uma carta da perversa, fez um escarcéu, ameaçou mandar o traidor embora.

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