sábado, setembro 25, 2010

ENTREVISTAS FICCIONADAS
COM JESUS CRISTO

Entrevista Nº 64

TEMA – COMPARTILHAR O PÃO


Raquel – Continuamos na Igreja do Cenáculo e pelo telemóvel estamos recebendo muitas mensagens. Umas felicitando-nos, outras indignadas. Também nos chegam muitas perguntas. Há pouco, fora dos microfones, o senhor, Jesus Cristo, fazia-nos um comentário irónico… Podemos repeti-lo?

Jesus – Eu dizia-te, Raquel, que se tivesse suspeitado das polémicas que se iriam armar sobre o que comemos naquela última ceia… o melhor teria sido jejuarmos.

Raquel – Ironias à parte o senhor referiu-se antes a São Paulo e a uma comunidade, creio que me disse de Corinto. Que se passou exactamente aí?

Jesus – Eu não o vi porque já me havia ido mas contaram-me.

Raquel – E que lhe contaram que tanto o impressionou?

Jesus – Pois aconteceu que na cidade de Corinto, que eu não sei nem onde fica, parece que se reuniam para darem graças a Deus. Enquanto uns comiam e se empanturravam, outros ficavam com fome. Paulo repreendeu-os e com toda a razão. Que comunidade pode ser esta onde há ricos e pobres? Que Páscoa vão celebrar juntos? Moisés e o Faraó? Oprimidos e opressor?

Raquel – Pois melhor não acontece em algumas Igrejas Cristãs porque lá se vão encontrar grandes surpresas…

Assentos de 1ª Fila reservados às autoridades, aos militares, e às famílias mais ricas. Os brancos à frente, os negros atrás, os brancos adiante, os índios atrás…

Jesus – Fazem isso?

Raquel – Pior. Dão o pão consagrado a ditadores, assassinos, torturadores e recusam-no às mulheres só por se terem divorciado…

Jesus – Fazem isso?

Raquel – Se o senhor soubesse…

Jesus – Tu, Raquel, falavas anteriormente da substância. A substância que tem de mudar, não a do pão mas sim a do coração. Um coração novo, capaz de amar, de compartilhar.

Raquel – Mas, diga-me uma coisa, senhor Jesus Cristo, se o senhor não instituiu a eucaristia naquela Quinta-Feira Santa… que fazem os sacerdotes em seu nome quando celebram a missa?

Jesus – Eu imagino que proclamam a boa notícia aos pobres. Isso é o que eu penso que fazem em minha memória.

Raquel – E as palavras mágicas, digo, misteriosas, que dizem os sacerdotes para que Deus baixe do céu para aterrar no altar, se oculte numa hóstia e se esconda num sacrário?

Jesus – Tu és uma pessoa inteligente, Raquel. Deus deu-te razão e coração. Aos ouvintes da tua Emissora também. Tu crês que Deus que não cabe no Universo, que não tem princípio nem fim, vai-se prestar a um truque desses? Que pequeno seria esse deus, um deus de abracadabra, como aquele mago que Filipe encontrou em Samaria!

Raquel – Se bem compreendo as suas palavras, o senhor deita abaixo teologias eucarísticas, bibliotecas inteiras, procissões com o Santíssimo Sacramento, custódias, adorações perpétuas, cânticos ao amor dos amores, o Concílio de Trento e a missa dos domingos.

Jesus – Escutas, Raquel?... É o vento… não podes agarrá-lo porque ele sopra de onde quer… Tão pouco podes encerrar Deus num templo ou num pedaço de pão ou num copo de vinho.

Raquel – Tenho mil perguntas e, no entanto, não sei que lhe perguntar.

Jesus – O maior revelou-o Deus no mais simples, Raquel. No pão há pão, no vinho há vinho e, na comunidade onde esse pão e vinho são compartilhados, onde tudo se põe em comum, Deus está presente.

Raquel – Amigos e amigas, não percam a fé, digo, a sintonia e continuem connosco. De Jerusalém, Raquel Perez.

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