terça-feira, setembro 28, 2010


INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 64 SOBRE O TEMA:
" COMPARTILHAMOS O PÃO?" (2)



Para além de repugnante, a um “milagre” tão materialista corresponde também uma pergunta materialista: como poderia viver Jesus ressuscitado sem um pedaço tão vital do coração?

Segundo Falasca, “milagres” deste teor – carne e sangue sobre os altares de sacerdotes atormentados por dúvidas de fé – produziram-se já 25: 10 em Itália, 7 em Espanha, mas só o de Lanciano foi referendado pelo Vaticano por ter sido “
submetido a rigorosas análises científicas”.

Em 2004, o Papa João Paulo II escreveu assim ao Arcebispo de Lanciano:
“Para nós cristãos, a eucaristia é tudo: é o centro da nossa fé e o centro de toda a nossa espiritualidade… isto vale de modo especial para a comunidade de Lanciano, custódia de milagres eucarísticos, que, para além de serem muito queridos para os fiéis desse lugar, são destino de numerosas peregrinações de Itália e de todo o mundo.”


Sem Desigualdades e Descriminações

Jesus recorda a Raquel o que escutou da comunidade de Corinto onde se celebrava a eucaristia, mas existem muitas outras situações de desigualdade e Paulo os repreendia por isso (1 Corintos 11, 17-34).

Santiago, o irmão de Jesus que dirigia a igreja de Jerusalém até ser assassinado pelo Sumo Sacerdote Ananías, no ano 62, também seguiu os ensinamentos de Jesus e em sua Carta adverte sobre descriminações na celebração da eucaristia:

- “Suponhamos que quando estão reunidos, entra um homem com um anel de ouro e vestido elegantemente e, ao mesmo tempo, entra outro pobremente vestido. Se vocês se fixam no que está muito bem vestido e lhe dizem : “Senta-te aqui, num lugar de honra” e ao pobre lhe dizem: “Fica ali de pé” ou: “Senta-te aqui aos meus pés” não estão, por acaso a fazer distinção entre os outros e actuando como juízes mal intencionados? Escutem, irmãos muito queridos: Acaso Deus não elegeu os pobres deste mundo para enriquecê-los na fé e fazê-los herdeiros do reino que prometeu aos que o amam? E, contudo, vocês desprezam o pobre. Não serão por acaso os ricos os que os oprimem e os fazem comparecer perante os tribunais? (Santiago 2, 1-7)


Um Espaço de Equidade

Na Igreja primitiva insistiu-se para que a celebração da eucaristia fosse um espaço de equidade, de justiça, onde se compartilhassem as palavras, a comida e até os bens. Os primeiros padres da Igreja falaram nesse sentido. São Justino dizia: “A eucaristia é o momento em que os cristãos dão, cada um o que tem, aos necessitados.”

São Cipriano dizia: “Quando os ricos não levam à missa o que os pobres necessitam não celebram o sacrifício do Senhor.”

Santo Ambrósio dizia numa carta ao Imperador que acabara de desrespeitar os habitantes de Tesalónica: “Não oferecerei o sacrifício da missa diante de si, caso se atreva a assistir.”

Ao relatar os começos da Igreja primitiva, o teólogo Hans Kung refere-se ao novo “ideal ético” cristão de justiça e equidade:
- O que resultava surpreendente e atractivo a muitos estranhos, era a coesão social dos cristãos tal como se expressava no culto: “Irmãos” e “Irmãs”, sem distinções de classe, raça ou educação podiam tomar parte na eucaristia. Ofereciam generosas oferendas voluntariamente durante o culto que eram administradas e distribuídas pelo bispo, proporcionando bem-estar aos pobres, doentes, velhos, órfãos, viúvas, presos e viajantes. Neste aspecto, a vida correcta (ortho-praxy) era mais importante na vida quotidiana das comunidades do que propriamente o ensino (a teoria) (ortho- doxy).
Em qualquer caso, esta foi uma razão de peso para o insólito êxito do cristianismo… Esta revolução amável, este movimento revolucionário “desde baixo” acabou por se impor no Império Romano.

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