DONA FLOR
E SEUS
DOIS MARIDOS
Episódio Nº 240
Em compensação vejam dona Macedo (& Cia.), exemplo do bom comportamento, na roda das mulheres, ponderada e discreta, dando atenção a Ramiro, um mocinho dos seus dezassete para dezoito anos, filhos do argentino da cerâmica. Se não fosse por ela, não teria o adolescente com quem se entreter, pois os outros jovens cercam Marilda e lhe pedem sambas, valsas, tangos e rancheiras, enquanto ele só deseja contar de suas pescarias: “peguei um vermelho tinha cinco quilos!”
- Oh! - dizia ela em êxtase – “Cinco quilos? Que colosso! E que mais pescou? – Que nome colocar num pescador audaz? Óleo de Fígado de Bacalhau iria bem, e os olhos de Neusoca se iluminaram.
O argentino, ao chegar com a esposa e o filho, deparou na porta com seu Vivaldo da funerária Paraíso em Flor. Juntos foram felicitar os donos da casa e, de regresso à sala dos homens, o portenho Bernabó, com sua franqueza um tanto incivil, comentou a elegância de dona Flor, cujo vestido matava de inveja todas as mulheres presentes e, de quebra, o nervoso Miltinho, xibungo que fazia as vezes de arrumadeira – aliás excelente – em casa de dona Jacy, emprestado para jantar na festa. (“Dona Flor hoje está abusando, está de cachupeleta.”)
- Quem faz mulher bonita é dinheiro… - disse seu Hector Bernabó – Repare na elegância de dona Flor e como está formosa…
Seu Vivaldo reparou, gostava aliás de reparar nas mulheres e medir contornos, curvas, reentrâncias.
- Para dizer a verdade ela sempre foi elegante e graciosa, não tão bonita, é certo. Agora está mais mulher, um pancadão, mas não creio que seja do dinheiro… É da idade, meu caro, ela está na medida exacta. Maluco é quem gosta de meninota, nem juntando dez se pode comparar com uma sinhá na força da idade, arrebentando os colchetes…
- Mire os olhos dela… disse o argentino, pelo visto ele também um apreciador.
Olhos de quebranto, perdidos na distância, como se entregues a voluptuosos pensamentos. Seu Vivaldo quisera saber que pensamentos assim ternos inspirava o farmacêutico, a ponto de tornar tão cismarenta dona Flor. Ela ia de uma sala à outra, atendendo seus convivas, gentil e prazenteira, perfeita dona de casa. Realizava, no entanto, tudo aquilo maquinalmente.
Seu Vivaldo pôs a mão no braço do argentino: não é dinheiro que faz mulher bonita, seu Bernabó, é o trato, é o descanso do espírito, a felicidade. Aqueles olhos de quebranto e as ancas de requebro se deviam à alegre paz da sua vida.
Em compensação vejam dona Macedo (& Cia.), exemplo do bom comportamento, na roda das mulheres, ponderada e discreta, dando atenção a Ramiro, um mocinho dos seus dezassete para dezoito anos, filhos do argentino da cerâmica. Se não fosse por ela, não teria o adolescente com quem se entreter, pois os outros jovens cercam Marilda e lhe pedem sambas, valsas, tangos e rancheiras, enquanto ele só deseja contar de suas pescarias: “peguei um vermelho tinha cinco quilos!”
- Oh! - dizia ela em êxtase – “Cinco quilos? Que colosso! E que mais pescou? – Que nome colocar num pescador audaz? Óleo de Fígado de Bacalhau iria bem, e os olhos de Neusoca se iluminaram.
O argentino, ao chegar com a esposa e o filho, deparou na porta com seu Vivaldo da funerária Paraíso em Flor. Juntos foram felicitar os donos da casa e, de regresso à sala dos homens, o portenho Bernabó, com sua franqueza um tanto incivil, comentou a elegância de dona Flor, cujo vestido matava de inveja todas as mulheres presentes e, de quebra, o nervoso Miltinho, xibungo que fazia as vezes de arrumadeira – aliás excelente – em casa de dona Jacy, emprestado para jantar na festa. (“Dona Flor hoje está abusando, está de cachupeleta.”)
- Quem faz mulher bonita é dinheiro… - disse seu Hector Bernabó – Repare na elegância de dona Flor e como está formosa…
Seu Vivaldo reparou, gostava aliás de reparar nas mulheres e medir contornos, curvas, reentrâncias.
- Para dizer a verdade ela sempre foi elegante e graciosa, não tão bonita, é certo. Agora está mais mulher, um pancadão, mas não creio que seja do dinheiro… É da idade, meu caro, ela está na medida exacta. Maluco é quem gosta de meninota, nem juntando dez se pode comparar com uma sinhá na força da idade, arrebentando os colchetes…
- Mire os olhos dela… disse o argentino, pelo visto ele também um apreciador.
Olhos de quebranto, perdidos na distância, como se entregues a voluptuosos pensamentos. Seu Vivaldo quisera saber que pensamentos assim ternos inspirava o farmacêutico, a ponto de tornar tão cismarenta dona Flor. Ela ia de uma sala à outra, atendendo seus convivas, gentil e prazenteira, perfeita dona de casa. Realizava, no entanto, tudo aquilo maquinalmente.
Seu Vivaldo pôs a mão no braço do argentino: não é dinheiro que faz mulher bonita, seu Bernabó, é o trato, é o descanso do espírito, a felicidade. Aqueles olhos de quebranto e as ancas de requebro se deviam à alegre paz da sua vida.
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