DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Não se dera ou, pelo menos, não se dera de todo, porque algo lhe permitira nesse tempo de dias cansados: carícias pequenas e inocentes. Seriam assim tão pequenas e inocentes?
Certa tarde, por exemplo, chegando estafada das repartições e do cartório (o doutor ainda fora à farmácia, preparar receitas) dona Flor despiu o vestido, arrancou sapatos e meias e se estendeu no leito de ferro, assim mesmo de corpinho e combinação. Havia silêncio e brisa na casa vazia e dona Flor suspirou.
- Cansada, meu bem? – era Vadinho deitado junto a ela.
De onde viera, onde se escondera, que dona Flor não o vira?
_ Tão cansada… Para descobrir um papel na repartição se perde uma tarde, nunca pensei…
Vadinho tocava-lhe o rosto:
- Mas tu está contente, meu bem…
- Sempre quis ter minha casa…
- Eu sempre te quis dar essa casa…
- Você?
- Não acredita, tem razão… Pois fica sabendo, foi a coisa que eu mais desejei: poder um dia te dar essa casa. Um dia eu haveria de ganhar tanto dinheiro no 17 que a pudesse comprar… Ia chegar com a escritura sem te dizer nada antes… Só que não deu tempo… Senão… Tu não acredita, não é?
Dona Flor sorriu:
- Por que não hei-de acreditar?
Sentia a boca de Vadinho na altura de seu rosto, quis libertar-se dos seus braços envolventes:
- Me deixa…
Mas ele tanto lhe rogou que ela lhe permitira a cabeça loira ao lado da sua e consentiu em descansar no aconchego de seu peito. Inocentemente, é claro.
Tu jura que não vai tentar…
- Juro…
Foi um momento de doçura, dona Flor sentindo no pescoço o hálito de Vadinho e aquelas mãos a defenderem seu descanso. Uma delas lhe acariciava o rosto, tocava-lhe os cabelos, apagando a fadiga. Tão cansada ela adormeceu.
Ao acordar, as sombras da noite haviam chegado e também doutor Teodoro:
- Dormiu, minha querida? Você deve estar morta, coitada… Além de gastar suas economias ainda esta labuta…
- Não diga tolices, Teodoro… - e pudica, cobriu-se com o lençol.
Na semi escuridão do quarto ela procurou Vadinho, não o viu. Certamente partira, ao sentir os passos do doutor. Será que ele anda com ciúmes de Teodoro? – perguntou-se dona Flor num sorriso. Vadinho negara, é claro, mas dona Flor tinha certa desconfiança.
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 268
Não se dera ou, pelo menos, não se dera de todo, porque algo lhe permitira nesse tempo de dias cansados: carícias pequenas e inocentes. Seriam assim tão pequenas e inocentes?
Certa tarde, por exemplo, chegando estafada das repartições e do cartório (o doutor ainda fora à farmácia, preparar receitas) dona Flor despiu o vestido, arrancou sapatos e meias e se estendeu no leito de ferro, assim mesmo de corpinho e combinação. Havia silêncio e brisa na casa vazia e dona Flor suspirou.
- Cansada, meu bem? – era Vadinho deitado junto a ela.
De onde viera, onde se escondera, que dona Flor não o vira?
_ Tão cansada… Para descobrir um papel na repartição se perde uma tarde, nunca pensei…
Vadinho tocava-lhe o rosto:
- Mas tu está contente, meu bem…
- Sempre quis ter minha casa…
- Eu sempre te quis dar essa casa…
- Você?
- Não acredita, tem razão… Pois fica sabendo, foi a coisa que eu mais desejei: poder um dia te dar essa casa. Um dia eu haveria de ganhar tanto dinheiro no 17 que a pudesse comprar… Ia chegar com a escritura sem te dizer nada antes… Só que não deu tempo… Senão… Tu não acredita, não é?
Dona Flor sorriu:
- Por que não hei-de acreditar?
Sentia a boca de Vadinho na altura de seu rosto, quis libertar-se dos seus braços envolventes:
- Me deixa…
Mas ele tanto lhe rogou que ela lhe permitira a cabeça loira ao lado da sua e consentiu em descansar no aconchego de seu peito. Inocentemente, é claro.
Tu jura que não vai tentar…
- Juro…
Foi um momento de doçura, dona Flor sentindo no pescoço o hálito de Vadinho e aquelas mãos a defenderem seu descanso. Uma delas lhe acariciava o rosto, tocava-lhe os cabelos, apagando a fadiga. Tão cansada ela adormeceu.
Ao acordar, as sombras da noite haviam chegado e também doutor Teodoro:
- Dormiu, minha querida? Você deve estar morta, coitada… Além de gastar suas economias ainda esta labuta…
- Não diga tolices, Teodoro… - e pudica, cobriu-se com o lençol.
Na semi escuridão do quarto ela procurou Vadinho, não o viu. Certamente partira, ao sentir os passos do doutor. Será que ele anda com ciúmes de Teodoro? – perguntou-se dona Flor num sorriso. Vadinho negara, é claro, mas dona Flor tinha certa desconfiança.
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