DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 283
Pela manhã, na aula de culinária, dona Flor, nervosa e desatenta, quase perde o ponto do arroz de haussá. No fundo da sala, a voz de Zulmira Simões Fagundes, a contar muito excitada.
- Meninas, é um sortilégio, ando com um medo… Vocês não se lembram que no outro dia aqui na aula senti uma coisa me alisando o seio? Pois não é que essa história continua…
As alunas se viram no maior assanhamento:
- O quê? Como? Conte…
- Ontem de noite eu estava no Palace…
- Você não perde soiré do Palace…
- Faz parte do meu trabalho…
- O que eu queria era um trabalho assim…
- Conte, Zulmira…
- Pois ontem de noite eu estava no Palace com meu patrão e teve uma coisa na roleta, só dava o 17…
Dona Flor ouvia pensativa.
- Na hora de maior complicação, senti o mesmo invisível tocando os meus seios e depois… baixou a voz - … me deu um beliscão nas nádegas…
- Beliscão de invisível? Não diga… - duvidava uma senhora pouco afeita a mistérios e de traseiro chocho.
- Não acredita? Pois ainda tenho a marca.
Não se dispondo a passar por mentirosa, Zulmira levantou a saia e exibiu a anca de fazer inveja mesmo às colegas mais bem servidas em matéria de quadris. Um tanto desbotada, lá estava a marca dos dedos de Vadinho. Em silêncio dona Flor saiu da sala.
Durante todo o dia dona Flor o esperou, apenas triste. Vadinho não veio. Nem na segunda noite. Toda aquela paixão era mentira, o delírio de amor era falsidade e hipocrisia. Dona Flor em vigília a esperá-lo, e o traste bem de seu no jogo ou por baixo das saias de Zulmira a lhe beliscar a bunda. Vadinho, cínico e irresponsável, fingido e desleal, sem coração. Dona Flor livre de toda a contradição, livre ao mesmo tempo da pudicícia e do desejo, apenas triste.
Na hora da vitória, o professor Máximo Sales não se enchia de empáfia; ao contrário: modesto, atribuía seu sucesso ao provérbio antigo, fórmula provada: “para escroque, escroque e meio”. Um erudito sem soberba, um verdadeiro humanista.
Não lhe viessem mais, porém, com almas do outro mundo e conversas de encantados e feitiços. Bastara empenar a roleta para toda a bruxaria se dissolver na evidência da trapaça, faltando agora tão-somente, descobrir o responsável, o chefe e cabeça da quadrilha e ajustar suas contas. Inocente do complô, Lourenço Mão-de-Vaca disparava a bolinha na bacia da roleta: na véspera só dera o 17, hoje nem uma só vez em toda a noite.
No rosto de Pelancchi Moulas, a tensão diminuíra. Só tinha medo do sobrenatural, de mais nada. Mas que força cabalística era essa, incapaz de se sobrepor ao truque da roleta?
Pela manhã, na aula de culinária, dona Flor, nervosa e desatenta, quase perde o ponto do arroz de haussá. No fundo da sala, a voz de Zulmira Simões Fagundes, a contar muito excitada.
- Meninas, é um sortilégio, ando com um medo… Vocês não se lembram que no outro dia aqui na aula senti uma coisa me alisando o seio? Pois não é que essa história continua…
As alunas se viram no maior assanhamento:
- O quê? Como? Conte…
- Ontem de noite eu estava no Palace…
- Você não perde soiré do Palace…
- Faz parte do meu trabalho…
- O que eu queria era um trabalho assim…
- Conte, Zulmira…
- Pois ontem de noite eu estava no Palace com meu patrão e teve uma coisa na roleta, só dava o 17…
Dona Flor ouvia pensativa.
- Na hora de maior complicação, senti o mesmo invisível tocando os meus seios e depois… baixou a voz - … me deu um beliscão nas nádegas…
- Beliscão de invisível? Não diga… - duvidava uma senhora pouco afeita a mistérios e de traseiro chocho.
- Não acredita? Pois ainda tenho a marca.
Não se dispondo a passar por mentirosa, Zulmira levantou a saia e exibiu a anca de fazer inveja mesmo às colegas mais bem servidas em matéria de quadris. Um tanto desbotada, lá estava a marca dos dedos de Vadinho. Em silêncio dona Flor saiu da sala.
Durante todo o dia dona Flor o esperou, apenas triste. Vadinho não veio. Nem na segunda noite. Toda aquela paixão era mentira, o delírio de amor era falsidade e hipocrisia. Dona Flor em vigília a esperá-lo, e o traste bem de seu no jogo ou por baixo das saias de Zulmira a lhe beliscar a bunda. Vadinho, cínico e irresponsável, fingido e desleal, sem coração. Dona Flor livre de toda a contradição, livre ao mesmo tempo da pudicícia e do desejo, apenas triste.
Na hora da vitória, o professor Máximo Sales não se enchia de empáfia; ao contrário: modesto, atribuía seu sucesso ao provérbio antigo, fórmula provada: “para escroque, escroque e meio”. Um erudito sem soberba, um verdadeiro humanista.
Não lhe viessem mais, porém, com almas do outro mundo e conversas de encantados e feitiços. Bastara empenar a roleta para toda a bruxaria se dissolver na evidência da trapaça, faltando agora tão-somente, descobrir o responsável, o chefe e cabeça da quadrilha e ajustar suas contas. Inocente do complô, Lourenço Mão-de-Vaca disparava a bolinha na bacia da roleta: na véspera só dera o 17, hoje nem uma só vez em toda a noite.
No rosto de Pelancchi Moulas, a tensão diminuíra. Só tinha medo do sobrenatural, de mais nada. Mas que força cabalística era essa, incapaz de se sobrepor ao truque da roleta?
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