segunda-feira, dezembro 06, 2010

ENTREVISTAS FICTÍCIAS

COM JESUS CRISTO Nº 73 SOB O TEMA:

“A INFALIBILIDADE DO PAPA”

Raquel – E. Latinas regressa a Cafarnaum. Sobre os alicerces da que foi a casa de Simão Pedro, o pescador, edificou-se hoje uma igreja monumental em forma de barca. No seu interior ainda se distingue o antigo dintel por onde o senhor, Jesus Cristo, teve que passar muitas vezes.

Jesus – Sim, aqui reuníamo-nos com Pedro e a sua família… Pedro foi um dos meus melhores amigos. Teimoso, fanfarrão como ninguém, mas um grande homem.

Raquel – E, sobretudo infalível.

Jesus – Infa quê?

Raquel – Infalível. Que não se equivoca.

Jesus – Como não se equivoca?

Raquel – Bem, Pedro, como primeiro Papa da Igreja, não se equivocaria nunca, porque dizem que os Papas são infalíveis.

Jesus – Mas que dizes, Raquel? Todos os que nascemos nos equivocamos.

Raquel – Eu corrijo. A infalibilidade funciona apenas quando os Papas falam “ex-cátedra”, da sua cadeira, sentados no seu trono, e em assuntos da fé e da moral. O senhor não sabia isso?

Jesus – Não. Não sei do que me estás a falar.

Raquel – Tenho comigo os dados. Escuta. Pio IX. Pio IX, outra vez. Concílio Vaticano I. Os Papas de Roma, como sucessores de Pedro e representantes de Jesus Cristo na terra, não podem equivocar-se.

Jesus – Mas se eu mesmo me equivoquei muitas vezes! Pensei que o mundo se acabaria já, pensei que não iria morrer sem ver chegar o Reino de Deus… e Pedro, nem se diga, esse vivia equivocado.

Raquel – Mas a infalibilidade é um dogma revelado, ou não?

Jesus – Revelado por quem?

Raquel – Isso não sei dizer-lhe.

Jesus – E esse mesmo Papa não se equivocou quando disse que não se equivocava?

Raquel – Não, porque é infalível quando diz que é infalível.

Jesus – Essa piada ainda não a havia escutado…

Raquel – Está-se rindo do dogma…

Jesus – Estou-me rindo de canas agitadas pelo vento que julgam ser cedros do Líbano. Como é que um ser humano que é pó e em pó se há-de tornar, pode dizer que é infalível, que não se equivoca?

Raquel – Pois assim o disseram os bispos, os cardeais exactamente a 18 de Julho de 1870.

Jesus – E o que se passa com aqueles que pensam que se equivocaram os que disseram que não se equivocam?

Raquel – Ficam fora da igreja e, segundo a igreja, fora dela não há salvação.

Jesus – Assim estão as coisas?

Raquel – Temos uma chamada… está lá?

Investigador – Emissoras Latinas?... Estou ouvido o vosso programa com muito interesse e alegra-me saber que Jesus Cristo pensa como eu e se ri dessas coisas. Querem saber de onde nasceram esses delírios de grandeza?

Raquel – Com certeza, toda a informação complementar é bem vinda.

Investigador – Vejam o que vos parece este documento que vos vou ler na íntegra. Escutem bem:

-“Ninguém na terra pode julgar o Papa. A igreja Romana não se equivoca e jamais se equivocará até ao final dos séculos. Somente o Papa tem autoridade para destituir bispos, reis e imperadores. Todos os príncipes devem beijar-lhe os pés. Um Papa é santo pelos méritos de Pedro.”

Jesus – Essa piada está todavia melhor… Pergunta-lhe de que boca saiu essa loucura…

Raquel – Jesus Cristo queria saber quem disse aquilo que o senhor acabou de ler.

Investigador – É o famoso “Dictactus Papae”, do Sec. XI, para que Jesus Cristo veja que muito antes dos dogmas dos Papas já se acreditavam infalíveis. Essa loucura, como diz muito bem Jesus Cristo, foi escrita pelo Papa Gregório VII.

Jesus – Meu amigo Pedro era fanfarrão mas esse Gregório ultrapassa todos.

Raquel – Se o interpreto bem, Jesus Cristo, o senhor não acredita na infalibilidade do Papa.

Jesus – Nem do Papa nem de ninguém. Apenas Deus é verdadeiro.

Raquel – Sendo assim, o único infalível que me resta é o relógio. É hora de me despedir.

Raquel Perez, de Cafarnaum.

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