quinta-feira, janeiro 13, 2011

TEREZA
BATISTA

CANSADA

DE GUERRA

Episódio Nº 3


Flori Pachola, mameluco de pequena estatura e muita lábia, dera ênfase particular à estreia da rainha do sambo e do maculelê, não medira esforços para fazer da primeira aparição de Tereza na pista do Paris Alegre facto memorável, acontecimento inesquecível. Aliás, memorável e inesquecível não deixou de ser.

3

Para noite de estreia Tereza Batista está até muito do seu, um tiquinho nervosa, mas tratando de não demonstrar. Sentada numa mesa discretamente situada a um lado da sala, aguarda a hora de mudar a roupa, conversando com Lulu Santos, a ouvir comentários maliciosos a propósito dos fregueses. Nova na cidade, não conhece quase ninguém; o rábula conhecia todo o mundo.

Apesar da meia-luz ambiente e da localização da mesa, a formosura de Tereza não passou despercebida. Mestre Lulu chama-lhe a atenção para uma das mesas de pista onde dois jovens pálidos bebem batida: doentia palidez de um deles, palidez de gringo sergipano a do outro, de fundos olhos azuis.

- O poeta não tira os olhos de você, Tereza.

- Que poeta? Aquele moço?

O moço de palidez doentia, pondo-se de pé, o copo levantado, brinda Tereza e o rábula, a mão aberta sobre o coração em largo gesto indicativo de amizade e devotamento. Lulu Santos agita a mão e o charuto em resposta:

- José Saraiva, talento do tamanho do mundo, um poetão. Infelizmente com pouco tempo de vida.

O que é que ele tem?

- Tísico.

- Por que não se trata?

- Tratar-se? Está se matando, isso sim, passa as noites em claro, bebendo, na boémia. É o maior boémio de Sergipe.

- Maior do que você?

- Junto do poeta sou fichinha, bebo minhas cervejas, mas ele não tem medida. Até parece que quer morrer.

- É ruim quando a gente quer morrer.

O Jazz, após uns poucos minutos de pausa, tempo justo dos músicos emborcarem um copo de cerveja, voltou a atacar com fúria. O moço poeta vem andando, apruma-se diante de Tereza e Lulu:

- Lulu, meu irmão, me apresente à deusa da noite.

Minha amiga Tereza, o poeta José Saraiva.

O poeta beija a mão da moça, ligeiramente bêbado, nos olhos uma tristeza a colidir com as maneiras estouvadas e a imposta inconsequência.

Para que tanto desperdício de beleza? Dá para fazer três beldades e ainda sobra graça e formosura. Vamos dançar, minha divina?

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