TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 41
Tímida para uma estrela, um tanto encabulada, sorriso medroso, ai tão linda!
Todos a crer fosse ela recente conquista do rábula aleijado e mulherengo, apenas o meritíssimo sabia da façanha – façanha ou milagre? – da improvisada professora de primeiras letras alfabetizando Joana das Folhas, idosa lavradora de mãos de raízes. Os olhos de admiração do doutor juiz cresceram de imediato em olhos de devoção e desejo: ah! fosse ele desembargador no tribunal de Justiça do estado e lhe ofereceria lar e carinho, mas com os estipêndios de juiz de direito mal chegando para a família legalmente constituída, para a casa civil, como pensar em amásia, amante, amiga, casa militar?
No mar de aplausos a artista Tereza Batista, iniciando-se em trajectórias de altos e baixos, mas de estreia triunfal. Gélido coração, ostra encerrada em si mesmo. Ah! se pudesse chorar – moleque não chora nem marinheiro tampouco! Águas do mar de ausência, amor de náufragos. Onde andará mestre Januário Gereba, Janu do bem-querer, na rota do cais da Bahia?
Solta Tereza a bunda como ele lhe ensinou, ancas de profundas vagas marinhas, o ventre de vaivém, a semente do umbigo, caule e flor. Frio coração, gelo e distância, ai Januário Gereba, gigante do mar, urubu-rei a voar sobre as ondas na tempestade, quando outra vez te verei, em teu peito a provar gosto de sal e maresia, morrendo em teus braços, afogada em teu peito, ai Januário Gereba, mestre Janu de bem-querer, ai, amor, quando outra vez?
A MENINA QUE SANGROU O CAPITÃO COM A FACA DE CORTAR CARNE SECA
1
O distinto é um porreta, fez e aconteceu, não me cabe duvidar, mas eu lhe pergunto se já viu alguma vez um cristão papocado de bexiga, as carnes comidas, aberto em chagas, ser metido num saco e levado para o lazareto. Me diga se já carregou nas costas, por uma boa légua de caminho, um bexiguento nas vascas da agonia, e o transportou até ao lazareto, a federativa pesteando o ar, o mel do pus escorrendo na aniagem. Coisa de ver, camarada.
Acredite quem quiser, doa a quem doer, abaixo de Deus foram as putas e mais ninguém que acabaram com a bexiga quando ela se soltou negra e podre por essas bandas. Abaixo de Deus é maneira de dizer, modo de falar, pois isso aqui é terra abandonada e safara, fim de mundo, e se não fossem as desinfelizes da Rua do Cancro Mole, não teria ficado rastro de vivente para contar a história.
Deus, cheio de missas e afazeres, com tanto lugar bonito onde pousar os olhos, porque havia de se ocupar dos bexiguentos de Buquim? Quem cuidou e resolveu foi mesmo a citada Tereza Batista, de alcunha Tereza Navalhada, Tereza do Bamboleio, Tereza dos Sete Suspiros, Tereza do Pisar Macio, nomes todos eles merecidos, como merecido foi o de Tereza de Omolu, oferta e confirmação dos macumbeiros de Muricapeba assim a praga terminou e se viu o povo de regresso às suas casas.
Tereza comeu a bexiga por uma perna, mastigou e cuspiu. Mastigou com aqueles dentes limados e com o dente de ouro, presente de um dentista de Aracajú, uma beleza.
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 41
Tímida para uma estrela, um tanto encabulada, sorriso medroso, ai tão linda!
Todos a crer fosse ela recente conquista do rábula aleijado e mulherengo, apenas o meritíssimo sabia da façanha – façanha ou milagre? – da improvisada professora de primeiras letras alfabetizando Joana das Folhas, idosa lavradora de mãos de raízes. Os olhos de admiração do doutor juiz cresceram de imediato em olhos de devoção e desejo: ah! fosse ele desembargador no tribunal de Justiça do estado e lhe ofereceria lar e carinho, mas com os estipêndios de juiz de direito mal chegando para a família legalmente constituída, para a casa civil, como pensar em amásia, amante, amiga, casa militar?
No mar de aplausos a artista Tereza Batista, iniciando-se em trajectórias de altos e baixos, mas de estreia triunfal. Gélido coração, ostra encerrada em si mesmo. Ah! se pudesse chorar – moleque não chora nem marinheiro tampouco! Águas do mar de ausência, amor de náufragos. Onde andará mestre Januário Gereba, Janu do bem-querer, na rota do cais da Bahia?
Solta Tereza a bunda como ele lhe ensinou, ancas de profundas vagas marinhas, o ventre de vaivém, a semente do umbigo, caule e flor. Frio coração, gelo e distância, ai Januário Gereba, gigante do mar, urubu-rei a voar sobre as ondas na tempestade, quando outra vez te verei, em teu peito a provar gosto de sal e maresia, morrendo em teus braços, afogada em teu peito, ai Januário Gereba, mestre Janu de bem-querer, ai, amor, quando outra vez?
A MENINA QUE SANGROU O CAPITÃO COM A FACA DE CORTAR CARNE SECA
1
O distinto é um porreta, fez e aconteceu, não me cabe duvidar, mas eu lhe pergunto se já viu alguma vez um cristão papocado de bexiga, as carnes comidas, aberto em chagas, ser metido num saco e levado para o lazareto. Me diga se já carregou nas costas, por uma boa légua de caminho, um bexiguento nas vascas da agonia, e o transportou até ao lazareto, a federativa pesteando o ar, o mel do pus escorrendo na aniagem. Coisa de ver, camarada.
Acredite quem quiser, doa a quem doer, abaixo de Deus foram as putas e mais ninguém que acabaram com a bexiga quando ela se soltou negra e podre por essas bandas. Abaixo de Deus é maneira de dizer, modo de falar, pois isso aqui é terra abandonada e safara, fim de mundo, e se não fossem as desinfelizes da Rua do Cancro Mole, não teria ficado rastro de vivente para contar a história.
Deus, cheio de missas e afazeres, com tanto lugar bonito onde pousar os olhos, porque havia de se ocupar dos bexiguentos de Buquim? Quem cuidou e resolveu foi mesmo a citada Tereza Batista, de alcunha Tereza Navalhada, Tereza do Bamboleio, Tereza dos Sete Suspiros, Tereza do Pisar Macio, nomes todos eles merecidos, como merecido foi o de Tereza de Omolu, oferta e confirmação dos macumbeiros de Muricapeba assim a praga terminou e se viu o povo de regresso às suas casas.
Tereza comeu a bexiga por uma perna, mastigou e cuspiu. Mastigou com aqueles dentes limados e com o dente de ouro, presente de um dentista de Aracajú, uma beleza.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home