domingo, março 20, 2011

HOJE È DOMINGO
(Da minha cidade de Santarém)


De novo sentado à mesa do meu Café nesta manhã de Domingo, em Santarém, confesso que tenho alguma dificuldade em embrenhar-me na leitura do jornal. As notícias são deprimentes:

- O desastre nas centrais nucleares no Japão – que raio! Não lhes bastava um terramoto de grau 9 e um tsunami?

- Na Líbia, o doido do Kadhafi bombardeia a população e o resto do mundo congela-lhe as contas bancárias… parece, agora, que por decisão da ONU, já estão a intervir com a força aérea mas o ditador ameaça retaliar, criar no Mediterrâneo uma espécie de apocalipse…

É assim quando a ética desaparece das relações internacionais e se dá apoio e cobertura a tiranos, loucos perigosos só porque têm petróleo, gás, muito dinheiro e isso nos convém.

- Por cá, é a dívida soberana, a permanente subida das taxas de juro sobre os empréstimos que temos de contrair para irmos vivendo… e agora a ameaça da crise política muito provavelmente com eleições antecipadas.

Um país que devia unir-se em torno dos grandes desafios para os poder enfrentar e vencer num momento em que o futuro se coloca em termos do dia de amanhã, em vez disso, embrenha-se em discussões e acusações recíprocas para desespero dos cidadãos para quem é evidente a inépcia e irresponsabilidade de quem tem gerido os nossos destinos.

Eu sei que os males do mundo nunca acabarão mas, naquilo que a nós nos diz respeito, e tirando os tempos das Senhas de Racionamento, por alturas da última Grande Guerra, nunca os portugueses, realmente, se sentiram tão à rasca e a expressão é mesmo esta.

Mas há duas grandes diferenças entre este momento que estamos a viver e o das Senhas de Racionamento do tempo da última Grande Guerra de que eu tenho ainda uma vaga lembrança:

- Hoje, o Belmiro de Azevedo, do Continente e o Jerónimo Martins do Pingo Doce têm os seus Supermercados abastecidos de tudo e disputam os “fregueses” (palavreado do antigamente) com o frenesim próprio das claques do Sporting e do Benfica em jogo de derby.

Nos outros tempos, simplesmente não havia produtos e o pouco que havia tinha de ser racionado pelos cidadãos para que, pelo menos, chegasse um bocadinho a cada um.

- A outra grande diferença tem a ver com as expectativas da população, nomeadamente dos jovens, que então eram muito baixas e hoje muito altas. Éramos um país de gente muito pobre, analfabeta, sobrevivendo da terra, espalhados por todas essas aldeias do país, na base da entreajuda familiar. Poucos estudavam, apenas os filhos dos doutores e dos poucos ricos, latifundiários, que escolhiam entre si serem engenheiros, médicos ou advogados.

Hoje, uma fábrica faz uma oferta de emprego para operários (quero dizer técnicos de qualquer coisa…) e não há inscritos para preencher as vagas…. Há muito que é assim e eu, que trabalhei no Instituto de Emprego, posso comprová-lo. É aquilo que se chama um "desajustamento entre a oferta e a procura" não obstante os milhões que vieram da Europa para Formação Profissional e que, em muitos casos, ou foi um desastre ou uma vergonha.

Depois do 25 de Abril registou-se um desprezo pela aprendizagem de “ofícios” e quase todo o investimento foi efectuado em Cursos Superiores com baixos níveis de exigência mas que correspondiam às aspirações dos jovens em serem “doutores”.

Pais, alunos, professores, o país no seu geral, andou a enganar-se. Se não aprendermos a fazer as coisas certas, aquelas que o país precisa, o saber pode ser de grande conforto pessoal mas não reverte a favor do progresso da nossa sociedade que tem carências especiais. Uma referência especial para todos os pais e jovens que foram excepções.

Do meu Café de Santarém e de moral em baixo, desejo a todos um bom Domingo. Para descontrair, ouçamos um bocadinho Billy Vaughn.
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