sábado, março 19, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA

Episódio Nº 59


Viera passar uns dias de férias com o marido e trouxera o filho de dezassete anos, Daniel, adolescente de suave formosura, um pequeno dândi, imagem para medalhão. Na sala de frente, outras figuras gradas em conversa elevada e cerimoniosa. Visita de curta duração.

Na rua, dona Brígida comenta para a absorta Dóris:

- Bonito rapaz! Parece um quadro.

A voz de Dóris, como sempre desfalecente:

- Rapaz, aquilo? Menino bobo agarrado nas fraldas da mãe. Não aguento menino mimado.

Admira-se dona Brígida da opinião e do tom de desprezo.

Quem lhe ouvisse falar, minha filha, era capaz de pensar que você entende de meninos e rapazes… - graceja dona Brígida.

- Menino bobo, diz você, menino sabido lhe digo eu. Não tirou os olhos do decote de Neusa, aliás aquilo já não é decote é deboche, os peitos de fora, você reparou? Você nunca repara nessas coisas – E de repente as palavras saem-lhe da boca: - Garanto que ainda não reparou que o capitão Justo anda de olho em você.

- Já sim, mãe.

Um choque, um soco no peito de dona Brígida.

- Reparou quando?

- Faz tempo, mãe.

Andam uns passos em silêncio, dona Brígida busca recompor-se.

- Faz tempo e não me disse nada.

- Tinha medo que a senhora fosse contra.

- Hem?

Dóris ri, riso estranho, inquietante, dona Brígida segura o coração, põe a mão sobre o seio arfante, Deus do Céu!

- Quer dizer que você… Quer dizer que não está aborrecida com ele… não está…

- Aborrecida? Porquê? Nós estamos noivos, mãe.

Dona Brígida sente o coração descompassado disparar, necessita urgente água-de-flor, uma cadeira onde sentar-se, o sol de verão ofusca-lhe a vista e, de certo, os sentidos. Estará ouvindo bem, será realmente Dóris, sua filha, pobre e inocente menina, essa que a segue a seu lado pela rua, a afirmar-se noiva do capitão com a mesma voz baixa e mole de puxar as rezas do terço, ou tal diálogo não passa de alucinação?

- Minha filha, pelo amor de Deus, me conte tudo antes que eu sufoque.

O riso novamente: de triunfo, seria?

- Ele me escreveu um bilhete, me mandou…

- Mandou? Para onde? Quem trouxe?

- Mandou para o colégio, recebi quando ia indo, no caminho.

Foi Chico, empregado dele quem trouxe. Aí eu respondi, ele escreveu de novo, respondi outra vez. Chico me dá o bilhete dele na ida para o colégio, na volta vem buscar a resposta. Anteontem ele escreveu perguntando se eu aceitava ser sua noiva, se eu aceitasse ele ia falar com a senhora.

- E você? Já respondeu?

- No mesmo dia, Mãe. Disse que por mim já me considerava sua noiva.

Detém-se dona Brígida no meio da rua, olha a filha, magricela, vestido curto de menina, sapatos de salto baixo, rosto macerado, quase sem pintura, quase sem busto, escolar tola e inocente – ah! o fogo a consumi-la!

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