sexta-feira, março 18, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA



Episódio Nº 58



Dona Brígida, no entanto, detinha-se também em outros aspectos da conduta do capitão, analisando o verdadeiro valor das histórias narradas, algumas com detalhes de arrepiar.

Quanto a desonestidade nas contas e a cobrá-las no grito e no tapa, qual o comerciante livre da acusação de desonesto? E ai daquele que não usar de todos os meios para cobrar dívidas em atraso. Deixará a família ao desamparo. O melhor exemplo é o falecido doutor Ubaldo, incapaz de apresentar conta, de apertar um cliente.

Deixou um ror de devedores, gente atendida e tratada por ele durante anos; muitos deviam-lhe a vida. Nem um só procurou a família em luto, precisada, na necessidade, para saldar essas dívidas de honra. Em troca surgiram os credores falando grosso.

Nas noites de insónia, dona Brígida esclarece com isenção acontecimentos e acusações. A imagem de Justiniano Duarte Rosa ganha contornos de humano. O monstro já não é tão assustador. Sem falar nas qualidades positivas: solteiro e rico.

Isenção ou boa vontade? Embora toda a boa vontade, dona Brígida não pode ignorar escuras zonas sem explicação, suspeitas jamais extintas, ecos de tiros nas tocaias, visão de covas abertas à noite.

No processo pelo assassinato dos irmãos Barreto, Isidro e Alcino, mortos enquanto dormiam, não ficou provada a responsabilidade do capitão, apontado como mandante por um dos criminosos, Gaspar. Nas vésperas de depor, esse tal Gaspar apareceu enforcado no xadrez; remorsos certamente.

Ao pensar em tais coisas dona Brígida estremece. Gostaria de inocentar o capitão por completo. Necessita fazê-lo para ficar bem com a sua consciência e para poder convencer Dóris. Tola menina de catorze anos, tão distante de tais enredos, indiferente aos mexericos, olhos postos no chão ou voltados para o céu, Dóris decerto nem se dera ainda conta dos avanços do capitão.

Dona Brígida quer concluir a favor, para tanto se esforça noite a dentro: o casamento de Dóris com Justiniano Duarte Rosa, eis a milagrosa, a perfeita solução para todos os problemas. Vagas sombras fugidias, porém perturbam-na, fazem-lhe medo, adiam a decisão e a conversa.

Conversa difícil fica sempre para o dia seguinte. Dona Brígida teme a reacção da filha nervosa e choramingas quando lhe revelar o interesse do discutido prócer. Quem vem se preparando para místicas núpcias com o doce Jesus de Nazaré, no silêncio do claustro, como sequer imaginar o capitão e sua torpe legenda?

Ah! Dóris jamais aceitará discutir o assunto: franzina e lacrimosa, nervos à flor da pele mas obstinada como ela só, é capaz de trancar no quarto e recusar-se a voltar à rua.

Na madrugada insone, Dona Brígida, mãe amantíssima, pesa sentimentos e deveres. Sabe que lhe será impossível obrigar Dóris a casar-se com Justiniano Duarte da Rosa se a filha bater o pé e disser não. A pulso, não dá. Então, meu Deus, como fazer para convencê-la?


10

A conversa aconteceu inesperadamente quando, à tarde, mãe e filha voltavam da protocolar visita à dona Beatriz, esposa do juiz de direito, perfumada madame da capital.
(clique na imagem)

Site Meter