domingo, abril 10, 2011

HOJE É

DOMINGO


(Da minha cidade de Santarém)


Na passada sexta-feira fiz setenta e dois anos o que significa que a minha vida está repartida, em anos, entre ditadura e democracia. Dois períodos, dois países: o primeiro, dos “pobres”, o outro dos “ricos”, se considerarmos que a riqueza e a pobreza se diferenciam pela quantidade de coisas que consumimos e não me refiro apenas a bens, a objectos, estou também a pensar em educação, saúde e anos de vida.
No meio, ficou um pequeno período em que nos embebedámos de tanta felicidade…
Mas este “ser rico” pode ser perigoso e o consumo um engodo se por detrás dele não houver a riqueza produzida pelo nosso trabalho e pelas nossas poupanças numa estratégia de desenvolvimento. Um consumo desenfreado baseado na capacidade de endividamento leva inevitavelmente à falência de pessoas e países.
Mas vivemos em liberdade que é o bem mais valioso, liberdade que não foi comprada mas conquistada ao longo de muito tempo de saturação da mordaça e de uma guerra de treze anos em África que a breve trecho deixou de fazer sentido, tornando-se absurda e cansativa.
Liberdade que tivemos para nos endividar, para nos vingarmos de um passado de privações, de cometermos excessos, sermos egoístas com as novas gerações, liberdade para cometermos erros de avaliação, para libertar e deixar correr ambições, vaidades e orgulhos com dimensão nacional.
Esta outra faceta da liberdade não está presente quando se luta porque ela, a liberdade, é um fim em si mesmo, é superior e mais importante do que todos os erros que se possam cometer quando se é livre.
Tínhamos dúvidas sobre as nossas capacidades, qualidades e defeitos colectivos? - Pois bem, neste momento em que a sociedade portuguesa vai ter que pedir ajuda à europa para poder viver em sacrifícios e tentar recuperar dos excessos e erros cometidos, é a altura indicada para perceber que a liberdade é isto mesmo: um permanente ajuste de contas connosco próprios, vítimas do que livremente fazemos, de bem e de mal, um processo ininterrupto que conduzimos sem a interferência de um qualquer tirano ou ditador que nos tenha caído em sorte.
Bom Domingo a todos, e para pensarmos que o mundo é belo ouçamos a Nana Mouskury nessa belíssima canção: “Um Lugar no Meu Coração.

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