TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 85
Que sucedeu em relação a Tereza, por que demorou tanto na cama de casal? Por que não pôde o capitão desprender-se, por que não se cansara? Dois anos, um horror de tempo. Punha os olhos em Tereza, o desejo irrompia nos ovos, tomava-lhe o peito. Saía em viagem, mulheres de luxo na capital – não esquecia Tereza. Aconteceu-lhe na roça romper os três vinténs de criatura nova no colchão do cubículo e, em seguida, vir ao leito de casal pôr-se em Tereza ainda melado do sangue da outra.
Por quê? Por ser bonita, de cara e estatura, uma lindeza por todos cobiçada? Certa tarde, ao lhe dar na pensão notícia de caça nova, descoberta por ela – põe esse boto ponho minha mão no fogo, se não for virgenzinha da silva, não carece me pagar – Gabi, percebendo o interesse do capitão, propusera-lhe troca por Tereza, de uma estampa assim andava carente o estabelecimento.
- Já tenho até lista de candidatos na fila.
O capitão não admitia que tirassem prosa com mulher sua: quem não se recorda do caso de Jonga, meeiro de próspera lavoura? Perdeu a lavoura e o uso da mão direita e só escapou da morte por culpa do médico da Santa Casa; tão-somente porque puxou conversa com Celina no caminho do ribeirão. Mal acabara Gabi de falar e engoliu o riso; em fúria Justiniano Duarte da Rosa demolia a sala da pensão:
- Lista? Me mostre que quero saber quais os filhos da puta que se atrevem… Cadê a lista?
Sumiram os pacatos fregueses vespertinos, Gabi teve a maior dificuldade em acalmar o bravo capitão: não havia lista alguma, maneira de falar, de louvar a boniteza da moça.
- Não precisa louvar.
Apesar da proibição, sucediam-se louvores e comentários e a lista de espera recolhia novos nomes, em segredo. Em todo aquele extenso país não existindo nenhuma mais linda e cobiçada, o capitão sentia-se vaidoso em ser dono dessa jóia capaz de encher os olhos até do doutor Emiliano Guedes, exigente na escolha, milionário e fidalgo. Justiniano a exibira em rinhas de galo e quando recebia na roça visita de fazendeiro, de caixeiro-viajante no armazém, chamava a moleca para servir café ou cachaça; gozando o prazer de proprietário invejado, a cobiça dos hóspedes – menos vaidoso dela, no entanto do que do galo Claudinor, capitão invicto, matador feroz.
Não era o capitão especialmente sensível à beleza, a não ser na hora de negociar, de trocar, de vender, quando a cara e o corpo da rapariga, a boniteza, a graça, eram moeda, dinheiro vivo.
Na cama, porém, outros valores pesavam mais na balança de seu agrado. Dóris, feia e doente, durou enquanto viveu. Porque então todo esse tempo Tereza no leito de casal?
Talvez, quem sabe? por não tê-la sentido em momento algum entregue por completo. Submissa, sim, de total obediência, correndo para servi-lo, executando ordens e caprichos sem um pio; assim agindo para não apanhar, para evitar o castigo, a palmatória, o cinto, a taca de couro cru. Ele ordenava, ela cumpria; nunca, porém, tomou a iniciativa, jamais se ofereceu. Deitada abria as pernas, a boca, punha-se de quatro, fazia e acontecia era só o capitão mandar; jamais se propôs. Dóris se desmanchava na cama. Provocante, se propunha e antecipava, “vou mamar o teu cacete e os ovos”; assim nem as gringas de Veneranda. (clik na imagem)
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