quarta-feira, abril 27, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA
Episódio Nº 92



Esse mundo é cheio de nove horas, são as regras do jogo, é preciso cumpri-las, ninguém pode desconhecê-las.

Ninguém, sequer Daniel, o filho predilecto, retrato da mãe, entrando na sala com o permanente sorriso de sedução – não tivera Daniel de vir passar o mês de férias em companhia do pai para colocar distância e ausência entre os sessenta anos milionários de pérola Shuartz Leão, farto dos anéis, dos colares, dos soluços, do ciúme da velha senil? Pondo banca de cínico, de dissoluto, Dan não passava de um rapazola, um menino.

Daniel sente a tensão na sala, tem horror a brigas, discussões, caras fechadas, trata de desanuviar o ambiente:

- Andei explorando o burgo; meio triste, não é? Já tinha esquecido como era, também faz um século que estive por aqui. Não sei como você consegue aguentar o ano inteiro, paterno, com só duas idas à Bahia; é dureza, vou me formar em Direito, como você deseja mas não me peça para ser juiz no interior, é de lascar.

Dona Beatriz sorri para o filho:

- Seu pai, Dan, sempre foi pouco ambicioso, é um poeta. Inteligente, com tanta leitura, escrevendo nos jornais, e com o prestígio da minha família, poderia ter feito carreira na política, não quis, preferiu a magistratura.

- Tudo tem as suas compensações, meu filho – novamente o meritíssimo enverga o manto da respeitabilidade.

- Acredito, meu pai – concorda Daniel recordando Belinha, a quem saudara na rua, a manceba do doutor juiz.

- Aqui posso estudar com tranquilidade, preparar com calma meus dois livros, o de direito penal e o de poemas. Quando me aposentar, penso fazer concurso para a Faculdade: tenta-me a cátedra, a política nunca me tentou, ao contrário, repugna-me!

- Inteiramente revestido de importância, de dignidade, envolto numa toga moral.

Dona Beatriz prefere mudar o rumo da conversa, os modos solenes de Eustáquio lhe dão nervos, que cansaço!

- Já despertou grandes paixões, Dan? Muitos corações em polvorosa? Quantos maridos, quantos lares ameaçados? – Paparicava os amores dos filhos, confidente compreensiva, cúmplice risonha quando Daniel se envolvia com amiga da roda do carteado.

Mulherio fracote, materna, mas agressivo. Cio generalizado, nunca vi igual, as janelas lotadas. De pouco interesse, pelo menos por ora.

- Nada que lhe atraísse? Dizem que as moças daqui, apesar de tabaroas, são da pá-virada. – Volta-se para o marido: - Esse seu filho, Eustáquio é o conquistador número um da capital.

- Exageros devidos ao amor materno, não vá nessa conversa, Pater. Alguma sorte com velhotas, alguns amores românticos, saldo pequeno.

O juiz considerou em silêncio a esposa, concentrada nas unhas, e o filho, a boca num bocejo, tão parecidos os dois, tão estranhos para ele. Afinal, o que lhe restava do mundo?

As tertúlias com os génios da terra, as dificuldades da métrica, as tardes e noites no calor de Belinha. Meiga Belinha, solícita, recatada, discreta, tinha um primo, pecado venial.

Bateram palmas à porta – a ilustre esposa do prefeito em visita à ilustríssima senhora do Juiz de Direito. Daniel se esgueira, vai rondar o armazém do capitão. (clik na imagem e aumente)

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