terça-feira, abril 05, 2011

TEREZA

BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA


Episódio Nº 73



Se quer, vamos lá, não desprezo uma brincadeira antes de meter. Serve para esquentar o sangue. O capitão até prefere assim, as que vão abrindo as pernas e o xibiu, sem oferecer resistência, não duram no seu querer, a única foi Dóris mas era esposa – e como poderia Dóris ter resistido na alcova junto da sala? Não pôde gritar, engoliu o medo e acendeu um fogo por dentro; nem no castelo de Veneranda, entre francesas, argentinas e polacas havia igual a ela por ardente e capaz. O capitão gosta de conquistar, de sentir a resistência, o medo, quanto mais medo, melhor. Ver o medo nos olhos das bichinhas é um elixir, um trago de bebida, retempera. Se quer gritar, pode gritar: em casa apenas a velha maluca e a criança, ninguém para se incomodar com soluços e gritos. Vamos lindeza! Dá um passo o capitão. Tereza se furta recebe uma tapa nas ventas. Ri de novo o capitão, é a boa hora do choro. O choro aquece o coração, acelera o sangue de Justiniano.
Em vez de chorar, Tereza responde com um pontapé; treinada na briga de moleques, atinge o osso no meio da perna nua, a unha do dedo grande arranha a pele – uma esfoladura, um pingo de sangue: foi Tereza quem tirou sangue primeiro. Curva-se o capitão para ver, quando se alteia abate o punho no ombro da menina. Com toda a força, para educar. Jagunço, soldado, comandante nas brigas dos moleques, Tereza aprendera que guerreiro não chora e ela não há-de chorar. Mas não pôde conter o grito, o soco desconjuntou-lhe o ombro. Gostou? Aprendeu? Está satisfeita ou quer mais? Deita, diabo! Deita antes que eu te rebente. Arde o capitão em desejo, a resistência serviu-lhe para acender a caceta, afrodisíaco melhor que pau-de-resposta ou catuaba, activou-lhe o sangue abriu-lhe o apetite, Deita! Em lugar de obedecer, a desinfeliz tenta atingi-lo outra vez, o capitão recua. Corna descarada, tu vai ver! O soco ressoa no peito, Tereza vacila, abre a boca para respirar; aproveita-se Justiniano Duarte da Rosa e por fim a prende nos braços. Aperta-a contra o peito, beija-lhe o pescoço, o rosto, tenta alcançar a boca. Para ajeitá-la melhor, afrouxa o abraço, Tereza rodopia, escapa, mete as unhas na cara gorda em sua frente, ah! por pouco não cega o bravo capitão.
Quem está com medo, senhor capitão? Nos olhos de Tereza apenas ódio, mais nada. Filha da puta tu vai ver o que é bom, acabou-se a pagodeira. Avança Justiniano, a menina se furta, as sombras vão e vêm, a fumaça se eleva, vermelha, sufocante, invade as narinas. Louco de raiva o capitão acerta um soco na caixa dos peitos de Tereza, parece uma batida de bombo. Tereza perde o equilíbrio, cai entre o colchão e a parede. Arde o rosto de Justiniano, a filha-da-puta ordinária queria furar-lhe os olhos. Baixa-se sobre a menina, mas ela rasteja, estende o braço, alcança e empunha o candeeiro.
O capitão sente o calor do fogo nas virilhas, na altura dos ovos. Criminosa! Assassina! Larga esse fifó agora mesmo, tu vai incendiar a casa e eu te mato. Tereza de pé, em sua mão o candeeiro sobe e avança; o capitão mais uma vez recua, salvando o rosto. Encostada à parede, a menina move a luz para localizar o inimigo. Ao fazê-lo exibe o rosto suado e atrevido. Onde o medo, o medo desatinado de todas as outras? Apenas ódio. É preciso lhe ensinar a temer, a respeitar o amo e senhor que a comprou a quem de direito, é seu dono; se não houver respeito no mundo como há-de ser? De repente, o capitão enche as bochechas, sopra com força, a chama vacila e se apaga. Some o quarto na escuridão. Tereza perdida nas trevas. Para Justiniano Duarte da Rosa é dia claro, enxerga a menina contra a parede, os olhos de ódio, o fifó inútil na mão. Precisa ensinar-lhe o medo, educá-la.


Chegou a hora, lá vai a primeira lição. Tereza recebe na cara a mão aberta, quantas vezes não sabe, não contou, capitão Justo tampouco. Rola o fifó, a menina tenta defender o rosto com o braço, não adianta grande coisa: a mão de Justiniano Duarte da Rosa é pesada e ele bate com a palma e com as costas, dedos de anéis. Tereza tirou sangue primeiro, uma gota, bobagem. Agora coube ao capitão, o sangue da boca da menina suja-lhe a mão; aprenda a me respeitar, desgraçada, aprenda a me obedecer, quando eu digo se deite é para se deitar, quando eu digo abra as pernas, é para abrir depressa, com honra e satisfação.

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