TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 114
Então Dan a tomou e suspendeu nos braços e, mantendo Tereza deitada contra o seu peito, sob a chuva a carregou do portão do quintal até à entrada da sala; nas velhas revistas de Pompeu e Papa-Moscas os noivos do cinema assim transportam as noivas nas noites de núpcias.
Na entrada da casa a depôs, sem saber onde ir. Tomando-o pela mão, Tereza atravessou a sala e o corredor, até ao fim, onde abriu a porta de um pequeno quarto entulhado de sacos de feijão, espigas de milho, latas, fardos de jabá e toucinho – e um catre de varas. No escuro, Daniel tropeçou nas espigas:
- Vamos ficar aqui, é?
Fez que sim com a cabeça, Daniel a sente trémula, medo com certeza.
- Tem luz?
Tereza acende uma luz pendurada do teto. Na luz fraca e triste, Daniel percebe o sorriso de desculpas, é uma menina apenas.
- Quantos anos você tem minha linda?
- Fiz quinze anteontem.
- Há quantos anos vive com o capitão?
- Vai para mais de dois anos.
Porque tantas perguntas? A água da chuva escorre da capa de Daniel, do vestido de Tereza grudado na pele, faz poças no chão de tijolos. Tereza não deseja falar no capitão, relembrar coisas passadas, ruins. Tinha sido tão bom em silêncio e no escuro, no portão do quintal, apenas lábios e mãos a tocá-la. Que interessa ao saber se o Justiniano foi o primeiro e o único, por que indaga ali parado, pingando chuva e frio? Primeiro e único, não houve outro, o anjo do quadro a tudo assistiu e sabe. Deixa de fazer atenção às perguntas para ouvir apenas a música da voz, ainda mais de quebranto do que o olhar, voz nocturna de preguiça e de cama (ouço tua voz, quero cama com urgência, definia Madame Salgueiro, da alta sociedade baiana, ressoando em Tereza.
Não responde às perguntas: como veio parar em casa do capitão, onde estão seus parentes, seus pais e irmãos? Sem mesmo dar-se conta, no embalo da voz, repete o gesto de Daniel no primeiro encontro a sós, no armazém: emoldura-lhe a face com as mãos, beija-lhe a boca. Dan recolhe nos lábios experiente o primeiro beijo dado pela inábil boca de Tereza e o sustenta e prolonga ao infinito.
Adivinhei seu aniversário e lhe trouxe um presente – entrega-lhe a figa encastoada em ouro.
- Como ia saber? Só quem sabe sou eu – sorri mansa e feliz a olhar o pequeno balangandã - É linda, só que não posso aceitar, não tenho onde guardar.
Esconda em qualquer parte, um dia poderá usar. – Um cheiro húmido de carnes e toucinho sobe do chão. – Me diga, não tem outro lugar?
-Tenho o quarto dele, mas tenho medo.
- De quê se ele não vai vir tão cedo? Antes dele chegar, já saí.
Tenho medo que ele adivinhe se alguém entrar em seu quarto.
- Não tem outro?
- Tem outro mas é igual a esse, cheio de mercadorias, é onde Chico dorme, tem a cama e as coisas dele. Ah! tem o do colchão.
- Do colchão?
Na entrada da casa a depôs, sem saber onde ir. Tomando-o pela mão, Tereza atravessou a sala e o corredor, até ao fim, onde abriu a porta de um pequeno quarto entulhado de sacos de feijão, espigas de milho, latas, fardos de jabá e toucinho – e um catre de varas. No escuro, Daniel tropeçou nas espigas:
- Vamos ficar aqui, é?
Fez que sim com a cabeça, Daniel a sente trémula, medo com certeza.
- Tem luz?
Tereza acende uma luz pendurada do teto. Na luz fraca e triste, Daniel percebe o sorriso de desculpas, é uma menina apenas.
- Quantos anos você tem minha linda?
- Fiz quinze anteontem.
- Há quantos anos vive com o capitão?
- Vai para mais de dois anos.
Porque tantas perguntas? A água da chuva escorre da capa de Daniel, do vestido de Tereza grudado na pele, faz poças no chão de tijolos. Tereza não deseja falar no capitão, relembrar coisas passadas, ruins. Tinha sido tão bom em silêncio e no escuro, no portão do quintal, apenas lábios e mãos a tocá-la. Que interessa ao saber se o Justiniano foi o primeiro e o único, por que indaga ali parado, pingando chuva e frio? Primeiro e único, não houve outro, o anjo do quadro a tudo assistiu e sabe. Deixa de fazer atenção às perguntas para ouvir apenas a música da voz, ainda mais de quebranto do que o olhar, voz nocturna de preguiça e de cama (ouço tua voz, quero cama com urgência, definia Madame Salgueiro, da alta sociedade baiana, ressoando em Tereza.
Não responde às perguntas: como veio parar em casa do capitão, onde estão seus parentes, seus pais e irmãos? Sem mesmo dar-se conta, no embalo da voz, repete o gesto de Daniel no primeiro encontro a sós, no armazém: emoldura-lhe a face com as mãos, beija-lhe a boca. Dan recolhe nos lábios experiente o primeiro beijo dado pela inábil boca de Tereza e o sustenta e prolonga ao infinito.
Adivinhei seu aniversário e lhe trouxe um presente – entrega-lhe a figa encastoada em ouro.
- Como ia saber? Só quem sabe sou eu – sorri mansa e feliz a olhar o pequeno balangandã - É linda, só que não posso aceitar, não tenho onde guardar.
Esconda em qualquer parte, um dia poderá usar. – Um cheiro húmido de carnes e toucinho sobe do chão. – Me diga, não tem outro lugar?
-Tenho o quarto dele, mas tenho medo.
- De quê se ele não vai vir tão cedo? Antes dele chegar, já saí.
Tenho medo que ele adivinhe se alguém entrar em seu quarto.
- Não tem outro?
- Tem outro mas é igual a esse, cheio de mercadorias, é onde Chico dorme, tem a cama e as coisas dele. Ah! tem o do colchão.
- Do colchão?
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