TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 110
Homem de respeito não se rebaixa a essas nojeiras. Mas esses moços da capital são uns bananas na mão das mulheres. Daniel não ficara trancado com a moça do chalé – assim lhe contou – sem lhe comer o cabaço, com receio das consequências? Mas o resto fizera. Que resto. Ora que pergunta, caro amigo, senhor capitão, existem coxas e pregas, dedos e língua. Certamente com a língua, lulu de francesa. Quanto a ele, Justiniano, se na festa encontrar um cabaço a seu gosto, não vai ter contemplação e deferência; para depois coxas e pregas, língua jamais, não é cachorro de gringa. Não vale a pena levar Tereza. Hoje a moleca já teve boa ração.
Quando eu sair, apague a luz e vá dormir.
Sim, senhor – Tereza respira; ai tantos medos diversos penara nesse começo de noite de são João.
Encaminha-se o capitão Justo para o armazém, abre a porta. Chove na rua.
32
O quintal dava para um beco estreito, todo ele de fundos de residências, onde o caminhão e a carroça descarregavam mercadorias em seguida estocadas nos quartos da casa para não atulhar o armazém. O capitão, em suas viagens, comprava saldos baratos, artigos em liquidação, colheitas de feijão, café e milho, tendo dinheiro líquido para pagar à vista, obtinha descontos especiais dos atacadistas – ganhar na compra e ganhar na venda, eis sua divisa pouco original talvez, mas nem por isso menos original.
A chuva apaga as fogueiras nas ruas, no beco forma poças de água, vira lama no chão. Envergando capa de borracha, no ângulo de um portal fronteiro ao muro do armazém, Daniel perscruta a noite, ouvido atento a qualquer ruído, olhos querendo varar a cortina de chuva e escuridão.
Naquele dia, após o jantar, Daniel perguntara à dona Beatriz.
- Velha, será que você não tem um balangandã qualquer, sem valor mas bonitinho, que dê para eu dar de presente a uma diva? O comércio local é uma droga, dá pena.
- Não gosto que me chame de velha, Dan, você bem sabe. Não sou assim tão velha nem tão acabada.
- Desculpe Mater, apenas uma maneira carinhosa de falar. Você é uma balzaca ainda em perfeita forma e se eu fosse o paterno aqui presente não lhe deixava badalar sozinha na Bahia.
- Riu bem humorado, achando-se inteligente e divertido.
- Seu pai, meu filho, pouco liga para mim. Deixe ver se encontro alguma tolice que lhe sirva.
Na sala, sozinhos, pai e filho, o juiz advertiu Daniel:
- Consta-me estar você rondando a casa das senhoritas Morais, talvez atrás da Teodora, deve ter ouvido cochichos, invencionices; a moça é perfeita, tudo não passou de namorico tolo. Eu lhe recomendo cuidado, essas moças são de família distinta, um escândalo com elas seria de péssima repercussão. Afinal, o lugar está cheio de raparigas desimpedidas, sem eira nem beira, sem enredos nem arengas.
- Não se preocupe, paterno, não sou menino, não meto a mão em cumbuca, nem vim aqui causar dor de cabeça. Essas moças são simpáticas, me dou com elas, é tudo. Não tenho preferência por nenhuma, aliás. (clik na imagem e aumente)
Homem de respeito não se rebaixa a essas nojeiras. Mas esses moços da capital são uns bananas na mão das mulheres. Daniel não ficara trancado com a moça do chalé – assim lhe contou – sem lhe comer o cabaço, com receio das consequências? Mas o resto fizera. Que resto. Ora que pergunta, caro amigo, senhor capitão, existem coxas e pregas, dedos e língua. Certamente com a língua, lulu de francesa. Quanto a ele, Justiniano, se na festa encontrar um cabaço a seu gosto, não vai ter contemplação e deferência; para depois coxas e pregas, língua jamais, não é cachorro de gringa. Não vale a pena levar Tereza. Hoje a moleca já teve boa ração.
Quando eu sair, apague a luz e vá dormir.
Sim, senhor – Tereza respira; ai tantos medos diversos penara nesse começo de noite de são João.
Encaminha-se o capitão Justo para o armazém, abre a porta. Chove na rua.
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O quintal dava para um beco estreito, todo ele de fundos de residências, onde o caminhão e a carroça descarregavam mercadorias em seguida estocadas nos quartos da casa para não atulhar o armazém. O capitão, em suas viagens, comprava saldos baratos, artigos em liquidação, colheitas de feijão, café e milho, tendo dinheiro líquido para pagar à vista, obtinha descontos especiais dos atacadistas – ganhar na compra e ganhar na venda, eis sua divisa pouco original talvez, mas nem por isso menos original.
A chuva apaga as fogueiras nas ruas, no beco forma poças de água, vira lama no chão. Envergando capa de borracha, no ângulo de um portal fronteiro ao muro do armazém, Daniel perscruta a noite, ouvido atento a qualquer ruído, olhos querendo varar a cortina de chuva e escuridão.
Naquele dia, após o jantar, Daniel perguntara à dona Beatriz.
- Velha, será que você não tem um balangandã qualquer, sem valor mas bonitinho, que dê para eu dar de presente a uma diva? O comércio local é uma droga, dá pena.
- Não gosto que me chame de velha, Dan, você bem sabe. Não sou assim tão velha nem tão acabada.
- Desculpe Mater, apenas uma maneira carinhosa de falar. Você é uma balzaca ainda em perfeita forma e se eu fosse o paterno aqui presente não lhe deixava badalar sozinha na Bahia.
- Riu bem humorado, achando-se inteligente e divertido.
- Seu pai, meu filho, pouco liga para mim. Deixe ver se encontro alguma tolice que lhe sirva.
Na sala, sozinhos, pai e filho, o juiz advertiu Daniel:
- Consta-me estar você rondando a casa das senhoritas Morais, talvez atrás da Teodora, deve ter ouvido cochichos, invencionices; a moça é perfeita, tudo não passou de namorico tolo. Eu lhe recomendo cuidado, essas moças são de família distinta, um escândalo com elas seria de péssima repercussão. Afinal, o lugar está cheio de raparigas desimpedidas, sem eira nem beira, sem enredos nem arengas.
- Não se preocupe, paterno, não sou menino, não meto a mão em cumbuca, nem vim aqui causar dor de cabeça. Essas moças são simpáticas, me dou com elas, é tudo. Não tenho preferência por nenhuma, aliás. (clik na imagem e aumente)
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