INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 97 SOB O TEMA:
“O NOME DE DEUS” (7)
"Factor Deus"
Após o ataque às Torres Gémeas em Nova Iorque em 11 de Setembro de 2001, o debate sobre a "guerra santa" sobre a violência entre os homens em nome de Deus foi tema de discussão universal.
Entre aqueles que então reflectiram sobre esse tema destacamos o texto "Factor Deus", Prémio Nobel de Literatura, o português José Saramago.
Estes são fragmentos do que ele escreveu:
- “Já se disse que as religiões, todas, sem excepção, nunca serviram para aproximar e congregar os homens e que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos indescritíveis da maior violência física e espiritual que constituem um dos mais negros capítulos da miserável história humana…
Pelo menos em sinal de respeito pela vida, devíamos ter a coragem de proclamar em todas as circunstâncias esta verdade clara e demonstrável. Mas a maioria dos crentes de qualquer religião não só fingem ignorá-lo, como também de erguem com raiva e intolerância contra aqueles para quem Deus não é apenas um nome, nada mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe colocámos um dia e que viria a dificultar o nosso caminho para uma humanização real. Em troca, prometeu-nos paraísos e ameaçou-nos com infernos, tão falsos uns como os outros, insultos descarados ao nosso senso comum e inteligência tão duramente conquistados...
Dizia Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existe, e eu respondo que, precisamente, que é por causa e em de Deus que tudo tem sido permitido e justificado, principalmente o pior, especialmente hediondo e cruel como, durante séculos, a Inquisição e hoje os talibãs, organização terrorista dedicada a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito daqueles que dizem acreditar neles, num monstruoso conluio entre a religião e o Estado contra a liberdade de consciência e o mais humano direitos: o direito de dizer não, o direito à heresia, o direito de escolher outra coisa, e é só isto só o que a palavra heresia significa. E, no entanto, Deus é inocente...
Ao leitor crente, que conseguiu suportar a repugnância que estas palavras lhe inspiraram, não lhe peço que passe ao ateísmo de quem as escreveu. Simplesmente lhe peço que compreenda com o sentimento senão puder ser com a razão, que, se há Deus, há um só Deus, e que no seu relacionamento com ele, o menos importante é o nome que lhe ensinaram a dar.
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