quarta-feira, junho 01, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA



Episódio Nº 115




- Tem um aqui, outro na roça. É onde ele…

- Já ouvi falar, vãos até lá, este aqui é danado.

Naquele colchão muitas deitaram, ali violadas ou apenas possuídas, garotas novas a maior parte; tantas ali apanharam, gemeram, espernearam, comidas no grito, na bofetada, no soco, na taca (taca larga, de um couro só, diferente da outra, a da roça), sangue sobre o descolorido pano, argolas no colar do capitão.

O lençol ainda guarda o suor da última menina a estender-se no colchão, uns vinte dias antes, uma pobre demente que se pusera a rezar em voz alta, a invocar de joelhos a virgem e os santos ante a visão de Justiniano Duarte da Rosa nu e de cacete armado. É São Sebastião, proclamou em êxtase, provocando-lhe incontrolável frouxo de riso, um daqueles. O capitão a comeu na ladainha; as rezas, a invocação do nome da Virgem, os gritos, as gargalhadas, o choro da criança. São Sebastião ou o Demónio do Inferno?

Tereza, no outro lado da casa, sozinha na cama, não pudera dormir sua noite de folga. Não durou mais de quatro dias, não aguentando o capitão com tanta reza e leseira e, não havendo, e, não havendo vaga para maluca na pensão de Gabi, ele a devolveu aos pais com uma cédula de dez mil-reis e pequena metalotagem.

35

Ali pelo menos não estocam fardos de toucinho, carne seca, peixe salgado. Num dos pregos da parede, Daniel pendura a capa, paletó e gravata. Assobia de admiração ao ver a taca; estremece ao pensar na dor da pancada do pedaço de couro cru.

Tira o vestido, querida, senão você vai se resfriar. Mas foi ele quem o retirou, e com o vestido veio o porta seio, restando sobre o corpo de Tereza apenas a calçola de chitão florado. Flores de um vermelho esmaecido, Tereza novamente em silêncio à espera. Os seios erguidos, à mostra, não tenta escondê-los. Meu Deus, pensa Daniel, será que ela não sabe nada? Comporta-se como se nunca estivesse estado num quarto a só com um homem para com ele deitar-se e fazer amor. No entanto deve saber, tem de saber, certamente; vive com o capitão Justo há mais de dois anos, com ele na cama; ou então que espécie de animal é esse Justino Duarte da Rosa com a taca de couro?

Daniel das velhotas, Daniel das madames, gigolô de raparigas, por vezes lhe acontecera pegar mulheres casadas (algumas com muitos anos de matrimónio) mães de filhos, e não obstante virgens de qualquer sensação de prazer, apenas possuídas e engravidadas. Em casa com a esposa, o dever, o respeito, o pudor, cama de fazer filhos; na rua, com amásia ou rapariga, o prazer, o requinte, cama de luxúria, libertina – essa a divisa, o comportamento de muitos maridos de alta moralidade familiar. Famintas mulheres, no primeiro encontro de amante, desfaziam-se em vergonha e remorso, em choro de pecado: “Ai, meu pobre marido, sou uma louca, uma miserável, desgraçada, o que vou fazer? Ai, minha honra de casada!”. Dan era o oficial competente do ofício, consolador de primeira, próprio para enxugar lágrimas.

Competia-lhe ensinar a essas vítimas da rígida moral dos virtuosos consortes as escalas todas do prazer. Rapidamente aprendiam deslumbradas, gratas, insaciáveis e absolvidas de qualquer culpa, limpas de pecado, isentas de remorso, com sobradas razões para o adultério. Como tratar marido que, por preconceito masculino ou por sumo respeito, considera a esposa um vaso, uma coisa, um corpo inerte, pedaço de carne? Aplicando-se na testa excelsa um par de chifres, dos bem lustrosos, florados no prazer da rua. (clik na imagem para aumentar)

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