quarta-feira, junho 15, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE

GUERRA


Episódio Nº 127




Os projectos de fuga, os planos de vida futura, não ocuparam grande espaço de tempo nas noites curtas para as alegrias da cama. Tereza não chegou a duvidar do moço, porque haveria ele de mentir? Na primeira das oito noites, no retorno da doida arrancada inicial, quando Daniel ainda arfante deitou a cabeça no colo húmido de Tereza, comovida ela lhe disse: “Me leve daqui, posso ir de criada, com ele nunca mais.”

Quase solene, Daniel lhe prometeu: “Você vai para a Bahia comigo, esteja descansada.” Selou a promessa com um beijo de línguas aflitas.

Tudo quanto antes fora sujo e penoso com o capitão, com Daniel foi delícia de Céu. Daniel não disse chupa, como fez o capitão, empunhando a taca de sete chicotes, cada chicote dez nós. Na segunda noite – ai! porque não a primeira, Dan? – ele a deitou imóvel: fica quieta, pediu; veio com a ponta da língua e começou pelos olhos. Depois por fora e por dentro da orelha, em redor do pescoço, na nuca, no bico e no encontro dos seios, em torno dos braços – os dentes a morder-lhe os sovacos, pois dentes e lábios participavam na carícia – no ventre, no umbigo, no tufo negro de pelos, nas coxas, nas pernas, na face do pé e nos dedos, novamente nas pernas, nas coxas e por fim nas entre-coxas, na entrada secreta, na titilante flor: boca e língua a sugá-la, ai Dan vou morrer! Eis como ele lhe pediu, praticando nela primeiro. Tomou Tereza de espada fulgente; para completar juntos o fizeram, Tereza compreende que chegou a hora da morte; ainda bem!

Assim morta de gozo, a cabeça tombada sobre o ventre do anjo, disse Tereza. “Pensei que ia morrer, quem dera ter morrido. Se não for para a Bahia me mato, me enforco na porta, com ele é que nunca mais. Se não vai me levar, não minta, me diga a verdade.”

Pela primeira e única vez o viu zangado. Não já lhe disse que levo? Duvida de mim? Sou por acaso homem de mentiras?

Mandou-a calar-se: nunca mais repetisse tais coisas, porque misturara à alegria daquela hora ameaças e tristezas?

Porque diminuir, estragar a noite de prazer falando em morte e desgraça? Cada assunto sua hora, cada conversa no seu lugar. Também isso Tereza aprendeu com o estudante de Direito, Daniel Gomes para não mais esquecer. Não voltou a lhe perguntar sobre a combinada fuga, nem a pensar na corda da forca.

Daniel não lhe disse: de costas, de quatro, como Justiniano Duarte da Rosa a dobrá-la na fivela do cinturão, até hoje Tereza conserva a cicatriz. Numa daquelas noites de ressurreição o anjo traçou-lhe no amplo território da bunda as fronteiras a unir o paraíso terrestre e o reino dos Céus; alçando voo do poço de ouro onde se alojara, veio o pássaro audaz aninhar-se na cacimba de bronze. Meu amor! Disse Tereza.

Assim remanesceu quem morrera na palmatória, no cinturão, na taca, no ferro de engomar. O gosto de fel e as marcas de dor e de mel foram-se apagando todas elas, uma a uma; tendo recuperado cada parcela do seu ser, na hora necessária, sem sombra de medo, se ergueu inteira aquela falada Tereza Batista, formosa, de mel e valentia. (clik na imagem e aumente)

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