terça-feira, julho 26, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA




Episódio Nº 162



Depois, levantou-se, alta estatura de árvore: árvore frondosa de acolhedora sombra. No decorrer desses seis anos, os cabelos grisalhos e o basto bigode tornaram-se cor de prata, mas o rosto ainda liso, o nariz adunco, os olhos penetrantes e o corpo rijo não demonstravam os sessenta e quatro anos já cumpridos. Um sorriso encabulado, tão diverso do seu sorriso largo, o doutor Emiliano fita Tereza ao luar, como a pedir-lhe desculpas pelo travo de aspereza, de mágoa e até de cólera a marcar a conversa, no entanto uma conversa de amor, de puro amor.

Ainda deitada na rede, tocada fundo, tão fundo a ponto de sentir os olhos húmidos, o coração repleto de ternura, Tereza deseja lhe dizer tanta coisa, tanto amor lhe expressar, mas apesar do muito que aprendeu na companhia dele nessa meia dúzia de anos, ainda assim não encontra as palavras exactas.

Toma da mão que ele lhe estende, arranca-se da rede para os braços do doutor e novamente lhe entrega os lábios – como lhe dizer marido e amante, pai e amigo, filho, meu filho? Deita a cabeça no meu colo e repousa, meu amor. Um monte de sentimentos e emoções, respeito, gratidão, ternura, amor – ai, compaixão, jamais!

Compaixão ele não pede nem aceita, rocha irredutível. Amor, sim, amor e devotamento – como dizer-lhe tanta coisa ao mesmo tempo? Deita a cabeça no meu colo e repousa, meu amor.

Mais além do aroma embriagador dos jasmineiros, Tereza sente no peito do doutor aquele discreto perfume, seca madeira, do qual aprendera a gostar – tudo aprendera com ele. Ao término do beijo apenas diz: Emiliano, meu amor, Emiliano! E para ele foi bastante, sabia o quanto significava, pois ela sempre o tratara de senhor, jamais lhe disse tu ou você e só na hora do gozo, na cama se permitia confessar-lha amor. Transpunham os últimos obstáculos.

- Nunca mais me tratarás de doutor. Seja onde for.

- Nunca mais Emiliano. – Seis anos tinham-se passado desde a noite em que ele a retirara do prostíbulo.

Na força dos sessenta e quatro anos vividos intensamente, Emiliano Guedes, sem aparentar esforço, levanta Tereza nos braços e a conduz ao quarto por entre o luar e a fragrância do jasmim-do-cabo.

Uma vez ela tinha sido carregada, sob a chuva no quintal do capitão, igual a uma noiva em noite de núpcias, mas foram núpcias com a falsidade e a traição. Hoje, porém, quem a conduz é o doutor e essa noite de amor quase nupcial foi precedida de largos anos de terna convivência, leito de delícias, amigação perfeita.

Quem me dera ser solteiro para casar contigo. Não mais amásia, ilícita manceba de casa e mesa posta. Esposa, a verdadeira.

Nesses seis anos não houvera instante na cama com o doutor que não tivesse sido perfeito de prazer, deleite absoluto. Desde a primeira noite, quando Emiliano a fora buscar na pensão de Gabi e, escanchada na garupa do cavalo, a levara campo afora. Refinado mestre, nas mãos dele, sábias e pacientes, Tereza floresceu em mulher incomparável
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