TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio nº 161
Tão cansada e farta de viver, resolveu parar de vez, aceitou a proposta e ordenou a festa. Essa história do casamento de Tereza Batista eu posso lhe contar, meu jovem, coube-me o rol de padrinho, conheço toda a trama – e, sendo amigo da outra parte, dou razão à moça, veja bem.
Desanimada andou, entregue à sorte, sem esperança tão sem ânimo: basta lhe dizer que ouviu dichote de moleque em língua de sotaque e nem ligou, nem saiu atrás do covardão – tão cansada de tudo até de pelejar. Mas se aconteceu sentir-se assim, foi coisa transitória – bastou soprar a brisa do Recôncavo e novamente foi Tereza inteira, a sorrir e a velejar.
Do casamento posso lhe falar, seu moço; da greve do balaio fechado e da passeata das senhoras meretrizes reunidas na frente da igreja, da carga da polícia e do resto – de tudo isso lhe dou conta e, sendo pobre mas tendo sido rico lhe ofereço de comer, moqueca de primeira, no restaurante da finada Maria de São Pedro, nos altos do Mercado.
Só não posso lhe contar como me pede e quer saber, da vida de Tereza em amigação e morte com o doutor. Dessa história não dou notícia, dela só sei de ouvir dizer. Se o jovem deseja realmente saber como se deu, vá a Estância onde tudo se passou. A viagem é um passeio, a gente é boa e o lugar lindo, lá se reúnem os rios Piauí e Piauitinga para formar o rio Real e dividir Sergipe da Bahia.
3
Encerrando a longa e imprevista conversa daquela noite de Domingo, o doutor Emiliano Guedes sussurrou:
- Quem me dera ser solteiro para casar contigo. Não que isso modificasse em nada o que és para mim. As palavras eram acalanto, música em surdina, a voz familiar inesperadamente envolta em timidez, parecendo ainda mais tímida ao ouvido de Tereza: - Minha mulher…
Repentina timidez de adolescente, de aflito postulante, desprotegida criatura, em absoluta contradição com a personalidade forte do doutor, acostumado ao mando, seguro de si, directo e firme, insolente e arrogante quando necessário, se bem o mais das vezes cordial e gentil, uma dama no trato fino – senhor feudal de terras, canaviais e usina de açúcar, mas também capitalista citadino, banqueiro, presidente de conselhos de administração de empresas, bacharel em Direito.
Não era a timidez atributo de carácter do doutor Emiliano Guedes, o mais velho dos Guedes da Usina Cajazeiras, do Banco Interestadual de Bahia e Sergipe, da Eximportex S.A., de tudo isso o verdadeiro dono – empreendedor, ousado imperativo, generoso. Tanto quanto as palavras, o tom de voz enterneceu Tereza.
Ali, no jardim de pitangueiras, a lua desmedida de Estância escorrendo ouro sobre mangas, abacates e cajus, o aroma do jasmim-do-cabo evolando-se na brisa do rio Piauitinga, após ter-lhe dito, com amargor, ira e paixão o que jamais pensara confiar a parente, sócio ou amigo, o que jamais Tereza imaginara ouvir (se bem muita coisa houvesse adivinhado pouco a pouco no correr do tempo) o doutor a envolveu nos braços e, beijando-lhe os lábios, concluiu, a voz comovida e embargada: Tereza, minha vida, meu amor, só tenho a ti no mundo… (clik na imagem e aumente)
Desanimada andou, entregue à sorte, sem esperança tão sem ânimo: basta lhe dizer que ouviu dichote de moleque em língua de sotaque e nem ligou, nem saiu atrás do covardão – tão cansada de tudo até de pelejar. Mas se aconteceu sentir-se assim, foi coisa transitória – bastou soprar a brisa do Recôncavo e novamente foi Tereza inteira, a sorrir e a velejar.
Do casamento posso lhe falar, seu moço; da greve do balaio fechado e da passeata das senhoras meretrizes reunidas na frente da igreja, da carga da polícia e do resto – de tudo isso lhe dou conta e, sendo pobre mas tendo sido rico lhe ofereço de comer, moqueca de primeira, no restaurante da finada Maria de São Pedro, nos altos do Mercado.
Só não posso lhe contar como me pede e quer saber, da vida de Tereza em amigação e morte com o doutor. Dessa história não dou notícia, dela só sei de ouvir dizer. Se o jovem deseja realmente saber como se deu, vá a Estância onde tudo se passou. A viagem é um passeio, a gente é boa e o lugar lindo, lá se reúnem os rios Piauí e Piauitinga para formar o rio Real e dividir Sergipe da Bahia.
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Encerrando a longa e imprevista conversa daquela noite de Domingo, o doutor Emiliano Guedes sussurrou:
- Quem me dera ser solteiro para casar contigo. Não que isso modificasse em nada o que és para mim. As palavras eram acalanto, música em surdina, a voz familiar inesperadamente envolta em timidez, parecendo ainda mais tímida ao ouvido de Tereza: - Minha mulher…
Repentina timidez de adolescente, de aflito postulante, desprotegida criatura, em absoluta contradição com a personalidade forte do doutor, acostumado ao mando, seguro de si, directo e firme, insolente e arrogante quando necessário, se bem o mais das vezes cordial e gentil, uma dama no trato fino – senhor feudal de terras, canaviais e usina de açúcar, mas também capitalista citadino, banqueiro, presidente de conselhos de administração de empresas, bacharel em Direito.
Não era a timidez atributo de carácter do doutor Emiliano Guedes, o mais velho dos Guedes da Usina Cajazeiras, do Banco Interestadual de Bahia e Sergipe, da Eximportex S.A., de tudo isso o verdadeiro dono – empreendedor, ousado imperativo, generoso. Tanto quanto as palavras, o tom de voz enterneceu Tereza.
Ali, no jardim de pitangueiras, a lua desmedida de Estância escorrendo ouro sobre mangas, abacates e cajus, o aroma do jasmim-do-cabo evolando-se na brisa do rio Piauitinga, após ter-lhe dito, com amargor, ira e paixão o que jamais pensara confiar a parente, sócio ou amigo, o que jamais Tereza imaginara ouvir (se bem muita coisa houvesse adivinhado pouco a pouco no correr do tempo) o doutor a envolveu nos braços e, beijando-lhe os lábios, concluiu, a voz comovida e embargada: Tereza, minha vida, meu amor, só tenho a ti no mundo… (clik na imagem e aumente)
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