sexta-feira, julho 29, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA





Episódio Nº 165



Tereza mandara Nina buscar um copo com água; ao trazê-lo, a criada os encontrou aos beijos e agrados, a cabeça do doutor no colo da rapariga. Raquítica criatura apareceu depois para recolher a carga de aipim, a pedir desculpas pelo atrevido, sempre a lhe dar desgostos; dessa vez tomara lição e tanto.

Porque fica Tereza ali parada, não vem rezar pela alma do falecido? Homem direito e bom sem dúvida, mas emborcado em pecado mortal, em cima da amásia, sendo casado e pai de filhos, avô de netos. Para salvar-lhe a alma só com muita oração, muita missa, muita promessa, muito acto de contrição e caridade e quem mais deve pedir a Deus por ele senão a herege?

Rezar e arrepender-se da vida errada em companhia do marido de outra, na imoralidade a exigir a exigir o impossível das gastas forças do velho. Cabe-lhe a culpa da congestão, a ela e a mais ninguém.

Velho gaiteiro, buscando passar por competente, mostrar-se à altura da situação, de mulher na casa dos vinte, arretada, incontentável, carente de macho forte e jovem, de mais de um até.

Porque a viciosa não arranjara xodó entre os rapazes da cidade, economizando assim as forças do burro velho? Tão viciosa a ponto de manter-se honesta, guardando intactas para o coroca a ânsia, a precisão, a labareda a consumi-la. Na exigência e no pecado da carne, o pior de todos os pecados como é demais sabido, a sirigaita matara o ricaço, quem sabe na pressa de receber a bolada.

Porque não se põe de joelhos para rezar pela alma do pecador? Ele não só precisa como bem merece, terços, rosários e ladainhas, missas cantadas.

Nina costuma prestar ouvido às conversas, enquanto varre a casa, arruma aqui e ali, atende e serve. Ainda no começo da noite, ao chegar ao jardim com a bandeja de café ouvira referência a testamento na conversa do doutor com a emborca. Porque a ímpia não se lastima, não cobre a cabeça com cinzas, não irrompe em gritos e soluços, não aparenta sequer? Fica ali, parada, muda, distante. Devia ao menos dar uma satisfação ao mundo enquanto espera o testamento e a partilha para gozar a vida, em Aracaju ou na Bahia, desperdiçando a massa do velho broco com rapaz moderno, capaz de aguentar o baque da insaciável. Bolada de respeito certamente, dinheiro roubado pela indigna aos filhos e à legítima esposa, a quem de direito cabe toda a herança. Rica e livre, a sabidória, um pecado a mais e dos maiores.

Espertalhona, sem moral, sem coração, depois de tê-lo sugado e esvaído até à morte, nem para agradecer as larguezas, os desperdícios do defunto milionário, mão aberta, louco por ela, nem para agradecer o testamento reza uma ave-maria, derrama uma lágrima – nos olhos secos uma luz estranha, lá no fundo, carvão ardente. Nina renega o velho e a maldita, na contrição da reza.

6

Tendo ido Nina arrumar-se e ferver água, Tereza, sozinha no quarto, à espera do médico senta-se na beira da cama e tomando a mão de Emiliano, lhe diz, em voz de terno acento, tudo quanto não soubera dizer no começo da noite.

No jardim, sob a copa das árvores, ao luar, na rede a balouçar-se de leve, conversaram os dois, para Tereza conversa inesperada e surpreendente, para o doutor a derradeira
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