segunda-feira, agosto 29, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA



Episódio Nº 191


Não engravidara com Dan, no prazer da cama. Mais de dois anos com o capitão e não pegara filho. Sem tomar cuidado, pois o capitão não tomava cuidado nem reconhecia paternidade. Quando alguma menina aparecia grávida, mandava-a embora incontinente.

Abortasse, parisse, fizesse como entendesse, ao capitão não lhe importando. Se alguma ousada vinha de filho no braço, pedir-lhe auxílio, mandava Terto-Cachorro correr com a não-sei-que-digo, quem mandara ter? Filho só com Dóris, filho legítimo.

Estéril, seca, dissera Tereza ao doutor quando, recém-chegados a Estância, ele lhe recomendou precauções e métodos anti-concepcionais.

- Nunca peguei menino.

- Ainda bem. Não quero filho na rua. – A voz educada porém crua, inflexível: - Sempre fui contra, é uma questão de princípios. Ninguém tem o direito de pôr no mundo um ser que já nasce com um estigma, em condição inferior. Ademais quem assume compromisso de família não deve ter filho fora de casa. Filho a gente tem com a esposa, se casa para isso.

Esposa é para engravidar, parir e criar filhos; amante é para o prazer da vida, quando tem de cuidar menino, fica igual à outra, que diferença faz? Filhos na rua, não, é assim que eu penso. Eu quero minha Tereza para meu descanso, para me fazer a vida alegre nos poucos dias de que disponho para mim, não para ter filhos e amolações. De acordo, Favo-de-Mel?

Tereza fitou os olhos claros do doutor, lâmina azul de aço:

- Não posso mesmo ter…

- Melhor assim – Acentuou-se a sombra no rosto do doutor: - Meus dois irmãos, tanto Milton quanto Cristóvão, fizeram filhos na rua, os de Milton andam por aí ao deus-dará, a me dar dores de cabeça; Cristóvão tem duas famílias, um renque de filhos naturais, é pior ainda.

Esposa é uma coisa, amante é outra, diferente. Quero você só para mim, não quero lhe dividir com ninguém, muito menos com menino – Silenciou e de repente a voz fez-se novamente meiga e os olhos claros, em vez de lâmina de aço, eram água límpida, mirada afectuosa e um pouco triste: tudo isso e minha idade, Tereza.

Já não tenho idade para filho pequeno, não teria tempo para fazer dele um homem, uma mulher de bem, como fiz, como ainda estou fazendo com os outros. Quero guardar para você todo o tempo que me sobra… – E a tomou nos braços para fazer amor, amásia é para isso, Favo-de-Mel.

Sendo Tereza estéril, acabaram-se os problemas. Fosse parideira e haveria de desejar um filho do doutor para sentir-se a mulher mais feliz do mundo e, não obtendo permissão, sofreria demais. O usineiro fora franco, directo, até mesmo um pouco rede, ele sempre tão delicado e atento. Sendo ela estéril nenhum problema.

Não era estéril, ah, um filho do doutor cresce em suas entranhas, aleluia
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