TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
(Episódio Nº 193)
Ela concordou, outra coisa não desejando senão guardar uma esperança: ah, um filho, uma criança sua, e ainda por cima filho do doutor! Emiliano chegou poucos dias depois, na hora do almoço, mas, tão saudoso de Tereza, antes mesmo de ir para a mesa posta levou a amásia para o quarto e começaram por folgar, em riso e brincadeira – tenho fome é de você, fome e sede, minha Tereza. Nervosa assim não a vira antes, uma alegria intensa e um laivo de preocupação. Passado o ímpeto inicial, largados no leito, a mão dele sobre o ventre de Tereza, o doutor quis saber:
- Minha Tereza, tem algo a me dizer, não é?
- Sim, não sei como se deu mas estou grávida… Estou tão contente, pensei que nunca pegasse filho. É bom.
Uma nuvem sombreou o rosto do doutor, a mão fez-se pesada no ventre de Tereza e os olhos claros foram de novo fria lâmina azul, de aço. Um silêncio de segundos durou um mundão de tempo, o coração de Tereza parado.
- Tu tens de tirar, querida. – Dizia-lhe tu, coisa rara, fazendo-se ainda mais terno, a voz num sussurro no receio de magoá-la, inflexível porém: - Não quero filho na rua, já te expliquei porquê, te lembras? Não foi para isso que te trouxe para junto de mim.
Tereza sabia de ciência certa que não seria outra a decisão mas nem por isso foi menos cruel ouvir. Uma luz se apagou dentro dela. Conteve o coração:
- Me lembro e acho que o senhor tem razão. Eu já disse ao doutor Amarílio que quero tirar de qualquer jeito, mas ele me pediu para esperar a sua chegada para decidir. Por mim, já decidi e vou tirar.
Tão firme e intransigente a voz, quase hostil, o doutor não pôde conter certo desaponto:
- Decidiu por não querer um filho meu?
Tereza o fitou surpreendida, porque lhe faz essa pergunta se ele próprio lhe dissera, ao se estabelecerem em Estância, não querer filho na rua, filho apenas esposa pode ter, cama de amásia é para folgar, amásia é passatempo. Não vê como ela se domina para poder anunciar a decisão em voz firme, sem tremer os lábios? Ele lê por dentro de Tereza, então não sabe quanto ela deseja aquele filho, quanto lhe custa a valentia?
- Não me pergunte isso, sabe que não é verdade. Vou tirar porque não quero filho para passar o que eu passei. Se fosse diferente, eu não tirava, tinha, mesmo contra a vontade do senhor.
Tereza afasta do ventre a mão pesada do doutor, encaminha-se para o banheiro. Emiliano pôs-se de pé e rápido a alcança e traz de volta; estão os dois nus e sérios, frente a frente. Senta-se o doutor na poltrona onde costuma ler, Tereza ao colo:
- Perdoa-me Tereza, não pode ser de outra maneira. Sei quanto é difícil, mas não posso fazer nada, tenho meus princípios e lhe falei antes. Nunca lhe enganei. Também eu sinto mas não pode ser.
- Eu já sabia. Quem disse que talvez o senhor quisesse foi o doutor Amarílio, e eu, boba…
Um cão batido pelo dono, um fio de voz se desfazendo em mágoa, Tereza Batista no colo do doutor, amásia não tem direito a filho. (clik na imagem e aumente)
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