quinta-feira, setembro 01, 2011

ONDE ESTÁ O MEU OURO DE MINAS?
(continuação)


Há excepções, claro (Joaquim Nabuco, por exemplo), mas o tom geral da narrativa é de tal ordem que apetece perguntar como é que, até à independência (concedida por um soberano português, se distinguiam os portugueses do Brasil dos brasileiros do Brasil?

Por exemplo, o grande sucesso editorial brasileiro dos últimos tempos, o “1808”, de Laurentino Gomes, sobre a chegada da corte de D. João VI ao Brasil: um panfleto doentiamente anti português, sem a menor preocupação de enquadrar a história no seu contexto e onde só interessa o lado negro da aventura joanina. Parece, segundo o autor, que com a estada da corte portuguesa, os “brasileiros” descobriram, estupefactos, a porcaria urbana, a corrupção, o compadrio e o desgoverno (tudo coisas que, como se sabe, foram extintas em todo o Brasil há muito).

Ora, todos sabemos que D. João VI era um atrasado mental e que a Dª Carlota Joaquina era uma ninfomaníaca sevilhana permanentemente ocupada a conspirar contra o próprio rei e marido. Mas isso não era uma especialidade portuguesa, mas um dado corrente nas cortes europeias, minadas pela consanguinidade e pelas regras arbitrárias próprias dos sistemas monarcas da época.

Todavia, e conforme demonstram estudos recentes, D. João VI foi bem melhor soberano no Brasil do que foi em Portugal. Reformou a cidade do Rio de alto a baixo, abriu os portos brasileiros ao comércio internacional e instalou um verdadeiro Estado – que levou daqui por inteiro – onde antes apenas havia capitanias e mandantes locais.

O seu grande erro foi ter regressado, em vez de ter tido a visão de perceber que a capital do império deveria ser o Brasil e não Portugal.
(continua
)

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