terça-feira, agosto 30, 2011

Onde Está o Meu Ouro de Minas?
(continuação)

Dir-se-ia então que o desdém e a fútil superioridade com que aqui recebemos esses brasileiros que vieram ocupar os trabalhos que os portugueses já não queriam foi uma espécie de ajuste de contas tardio com a forma como os brasileiros receberam os portugueses que para lá foram em massa desde o último quartel do Séc. XIX até às primeiras décadas do Séc. XX.

Injustiça paga com injustiça: nós ficamos agora a dever aos brasileiros grande parte da construção das auto-estradas, hospitais e Expôs, com que, imbecilmente, imaginávamos ter conquistado para sempre a modernidade e o progresso; e antes, eles ficaram a dever-nos os ciclos do café e da borracha da Amazónia, que não teriam sido possíveis, por ausência de mão-de-obra, sem a impressionante emigração portuguesa – que teve como contrapartida, a ruína do interior de Portugal.

No imaginário do povo brasileiro, o português ficou para sempre associado à figura do padeiro de esquina de S. Paulo e do Rio (ainda hoje figura obrigatória nas novelas da globo, com um actor português a desempenhar o papel).

E, quando a inflação subia aos níveis estratosféricos a que às vezes sobe no Brasil, o padeiro português da esquina era o alvo imediato da raiva popular: como aceitar que os tipos que tinham desembarcado no Brasil descalços e vagabundos, se tivessem tornado em menos de uma geração, exploradores do povo que os acolhera?

Tivessem eles consultado os livros de bordo desses navios que trouxeram essa leva de portugueses (todos eles na flor da idade, dilacerados pela perspectiva de não voltarem a ver a casa e a família, mas com uma vontade incrível de acrescentar mais Brasil ao Brasil), tivessem sabido das condições desumanas em que viveram e trabalharam nos cafezais do Vale do Paraíba e nos seringais da Amazónia, e talvez tivessem outro olhar, mais justo, sobre essa espécie de irmãos mal-quistos. (continua)

Site Meter