terça-feira, setembro 27, 2011

TEREZA


BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA

Episódio Nº 215


Nunca engravidou, por isso me dizia: sou um traste sem serventia. Emiliano por que foi casar comigo? Fez tudo para ter um filho, levei-a ao Rio, a São Paulo, os médicos não deram jeito nem as curandeiras.

N a vontade de pegar menino fez promessas absurdas, encomendou feitiços na Bahia, usava bentinhos, tomava tudo que lhe ensinavam, coitada. Morreu pedindo que me casasse de novo, sabia quanto eu desejava um filho. Ela, sim, valia a pena. Ela e você, Favo de Mel.

Parece em dúvida se deve prosseguir ou não. Balança a cabeça, afasta os fantasmas, muda de assunto.:

- Então, sábado tem quermesse na Praça da Matriz? Gostaria de ir Favo de Mel?

- Para fazer o quê, lá sozinha?

- Quem lhe falou em ir sozinha? – Agora é ele que mexe com ela, como se ao recordar Isadora houvesse serenado:

- Sozinha não permito, não vou correr o risco com tanto gabiru atrás de você… Eu lhe convido em ir em minha humilde companhia…

De tão surpresa Tereza bate palmas num arroubo de menina:

- Nós dois? Se aceito? Nem pergunte. – Mas logo a mulher reflectida toma o lugar da jovem entusiasta: - Vai dar muito que falar, não vale a pena.

- Você se importa que falem?

- Não é por mim, é pelo senhor. Por mim podem falar à vontade.

- Por mim também, Tereza. Por consequência, vamos dar ao bom povo de Estância, que nos hospeda com tanta gentileza e que não tem muita novidade a comentar, um prato para as conversas, apimentado.

- Ouça, Tereza, e fique sabendo de uma vez para sempre: não tenho mais motivo nenhum para lhe esconder seja de quem for. Terminou-se a discussão, vamos beber para comemorar.

- Ainda não se acabou, não senhor. Sábado não é o dia em que seu João, doutor Amarílio e o padre Vinícius vêm jantar aqui?

- Anteciparemos o jantar para amanhã, eles também hão-de querer ir à quermesse, o padre não pode faltar. Manda-se Lula avisar.

- Estou tão contente…

Depois do beijo e de novamente encher os cálices, de retorno ao colo de Tereza, na rede larga, Emiliano conta:

- Sabe, Tereza, eu desta vez trouxe um vinho que vai botar lágrimas de emoção nos olhos do mestre Nascimento, um vinho de nossa juventude. Naquele tempo se encontrava à venda na Bahia, depois desapareceu completamente, chama-se Constantia, um licoroso produzido na África do Sul. Pois não é que um rapaz que me fornece vinhos obteve duas garrafas a bordo de um cargueiro americano atracado no porto de Bahia para carregar cacau? Você vai ver o velho João tremer nos alicerces….(clik na imagem)

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