domingo, novembro 06, 2011

HOJE É


DOMINGO




Difícil é hoje resistir à tentação de não vos falar de política depois de uma semana tão cheia de acontecimentos ameaçadores em que num dia parece estar tudo melhor, no outro a “casa vem abaixo” e no outro “dá-se o dito por não dito”.

Chegámos ao fim de semana com a reunião do G20 que, logo por acaso, calhou neste período mais atribulada para a Europa cujos líderes nem precisaram de levantar a voz para um lancinante pedido de apoio universal para financiar o FEEF (Fundo Europeu de Estabilização Financeira).

No entanto, este pedido não foi bem entendido por japoneses, chineses, americanos, brasileiros, já que, se olharmos para a Zona Euro, o total da sua Dívida Pública é 95,2% em percentagem do PIB o que, não sendo bom, está longe de ser desesperado em comparação com a dos E.U.A. (97,6%) e a do Japão que mais que duplica a percentagem europeia (212,3%).

Ainda, segundo a opinião dos especialistas, eles não percebem porque é que os europeus não lançam Emissões conjuntas de Títulos de Dívida, desde há pelo menos um ano e porque é que o conjunto dos Bancos Nacionais dos países da zona Euro e do Banco Central Europeu continuam a prestar homenagem à fobia germânica da “manutenção da estabilidade dos preços”, recusando-se a emprestar aos Estados ou a comprar a sua dívida no mercado primário.

Americanos, japoneses, chineses, brasileiros não entendem porque é que os europeus não fazem a refundação da União Europeia. Dizem eles, os especialistas, que a Dívida Soberana é a “patologia de um doente imaginário devorado pela desconfiança em si mesmo” dificultando assim que qualquer remédio externo venha em seu socorro, enquanto os Russos apontam a falta de autoridade para explicar a crise europeia…

Para entender melhor tudo isto é preciso reflectir sobre a história de muitos séculos dos países europeus ao longo dos quais foram vividas rivalidades com base em interesses e em aspectos culturais, religiosos e linguísticos diferentes.

Por exemplo, olhando para o Mapa dos países da Europa, verificamos que no centro e sul temos o catolicismo romano como religião predominante, a norte o protestantismo e a leste o cristianismo ortodoxo e todos nós sabemos que as religiões moldam e influenciam os pensamentos.

Foram razões de fundo que tiveram a ver com a negociata (já então!...) das indulgências, a maneira de salvar as almas, etc., que levaram Lutero e muitos outros homens de fé e de cultura a reformarem a Igreja de Roma.

As dificuldades do clima também talham o carácter e eu, se fosse de um país nórdico: frio, cinzento e húmido teria “inveja” do céu azul, do clima ameno e das belas praias dos países do sul da Europa…

Os nossos compatriotas do norte de Portugal, região isolada, interior e montanhosa são distintos dos algarvios privilegiados com as melhores praias e clima do mundo mas aqui temos uma história e uma língua comuns.

Há uma desconfiança dos povos do Norte da Europa relativamente aos do Sul e a história está cheia de guerras, conflitos de interesses, ambições de líderes políticos vizinhos, de tal monta que só no século passado fomos responsáveis por duas guerras mundiais. Por isso, a União Europeia nasceu, essencialmente, como um Projecto de Paz, embora, lá no fundo, a contra-gosto de muita gente.

Os líderes políticos europeus percebem isso mas vivendo em democracia precisam do apoio dos seus povos expressos em votos nos Parlamentos e estes continuam a sentir essas diferenças e desconfianças, raciocinam não como fazendo parte de um todo, como os chineses, japoneses, americanos ou brasileiros (sempre enrolados na bandeira do seu país) mas a pensar neles próprios, em cálculos de Deve e Haver, lembrando os passados históricos, incapazes de partirem para o Futuro, para uma União Económica e progressivamente Política. Só a monetária não chega, como se prova.

É que neste momento da história, é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa… e de certa forma, com a globalização, todo o mundo está à espera.


(click na imagem do Mercado, local de referência da cidade de Santarém com os seus famosos painéis de azulejos reproduzindo cenas da vida agrícola ribatejana)

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