segunda-feira, novembro 21, 2011

A IGREJA E A SEXUALIDADE

As paróquias da Baixa e do Chiado, na cidade de Lisboa, recentemente, distribuiram um panfleto de preparação para a confissão cujo título, na capa, é: “Sacramento de penitência e da reconciliação”.

Neste panfleto pode ler-se que um dos pecados graves de que os crentes se devem penitenciar diz respeito à sua vida sexual colocando ao leitor as seguintes questões:

- Guardais castidade?
- Consentis em maus pensamentos?
- Participeis em conversas indecentes?
- Praticais alguma acção grave contra a castidade (masturbação, relações sexuais fora do casamento, leitura, audição ou visionamento de material pornográfico, práticas homossexuais)?

Estas são as primeiras questões que as pessoas devem colocar a si próprias para “obterem a reconciliação com Deus e com a Igreja”.

A seguir vêm outras questões tendo em vista igualmente a tal “reconciliação com Deus e a Igreja” como sendo:

- Praticaste alguma falta contra os direitos sagrados da vida tais como: homicídio, aborto, eutanásia, violência contra os outros, suicídio tentado ou planeado, uso de drogas, abuso de álcool, condução imprudente e sistemática, riscos desnecessários e excessos tomados por aventureirismo ou bravata, ou qualquer acção que represente violação do 5º mandamento da lei de Deus”.

… podiam, mais simplesmente, ter resumido perguntando às pessoas se cumpriram as Leis e Regulamentos incluindo o Código das Estradas.

O destaque que é conferido à sexualidade e às práticas homossexuais colocando-as em paridade com crimes gravíssimos como o homicídio, despertou reacções indignadas quando, a própria lei, já autorizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

A Igreja continua ainda a revelar, em certos sectores, que tem pelas coisas do sexo uma aversão, espécie de paranóia que vem de longe e teima em se manter, mesmo num momento muito delicado dada a revelação pública de inúmeros casos de pedofilia com encobrimento por parte de Bispos, seus mais altos responsáveis.

Não esqueçamos que Jesus, segundo a doutrina, não teve direito a um pai para que pudesse ter sido concebido “sem pecado”, por sua mãe, “virgem” Maria.

Ou seja, o acto da procriação é um pecado (esta, sim, verdadeira heresia…) e para que a humanidade não se extinguisse os senhores da Igreja permitiram que as relações sexuais fossem aceites, sabe-se lá com que relutância, dentro do casamento, presume-se que o canónico.

Por quê esta aversão, este ódio/atracção, pelo sexo? Esta relação com o seu quê de patológica foi agravada pela insensata decisão da obrigatoriedade ao celibato dos padres, decisão esta tomada no Concílio de Nicéia em 326. Voltaremos a este Concílio num próximo texto porque ele também ajuda a explicar aspectos importantes de uma decisão tão contra-natura.

- O poder do sexo desafia o poder da fé. São duas forças tremendas, podendo ser destruidoras dentro de nós: pelo amor e pela fé se mata e se morre.

Para garantir a reprodução, os processos de selecção da natureza “criaram” o amor que torna irresistível a aproximação e a união entre as pessoas com vínculos mais fortes, demasiado fortes por vezes, nos primeiros anos para assegurarem a concepção e o apoio aos descendentes nos primeiros tempos de vida. (leia-se a respeito desta matéria o que a antropóloga e investigadora americana Helen Fisher tem para nos ensinar).

Para garantir a sobrevivência os processos de selecção desenvolveram, também, o mecanismo do “acreditar”, já aqui explicado pelo autorizado Prémio Nobel, Richard Dawkins, de que as religiões, mais tarde, se aproveitaram (“danos colaterais”) e a que chamaram fé.

O “Amor” e o “Acreditar” são dois espaços dentro do nosso cérebro, duas forças potencialmente explosivas que podem servir projectos de felicidade ou de destruição. (continua)

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