segunda-feira, novembro 21, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 262




- Não vão ficar na cadeia a vida toda. Por isso vim lhe ver.

- Para quê?

- Diz que depois da Barroquinha, é a vez do Maciel. Me diga se não é segredo, o senhor… Desculpe: você… Você vai-se mudar?

Vavá mantém os olhos fitos em Tereza, aqueles olhos, vida de seu corpo, pesquisadores, desconfiados, adivinhos. Porque ela não se contenta em ser bonita? Bonita de mais, ai Deus do céu!

- Se eu puder dar um jeito é claro que não.

- E se não tiver jeito? Nem quero pensar.

- Mas se ninguém se mudar, ninguém? Você acha que a polícia pode obrigar, mudar a pulso, se ninguém obedecer? Acho que não.

Desobedecer à polícia, ideia mais louca e absurda. Mas, se o povo da zona pudesse impor a localização do meretrício, conservando-o onde se encontra à tantos anos, seria uma beleza.

Ideia absurda e louca, ideia tentadora. Vavá em vez de responder, pergunta:

- Me diga você uma coisa, por favor: acredita que a polícia vai tocar no castelo de Taviana com essa porção de graúdo protegendo ela?

- Não sei lhe dizer.

- Pois eu duvido. Du-vi-do! Pode mudar todo o mundo menos Taviana, Sendo assim, então por que você se mete nisso, fala como se trabalhasse na Barroquinha ou aqui? Porquê?

- Porque se hoje frequento a casa de Taviana já fui mulher de porta aberta e posso vir a ser de novo. – Calou-se por um instante, e Vavá, pasmado, viu-lhe nos olhos negros o fulgor de um raio. – Já passei por boas e aprendi que se a gente não brigar, não alcança nada nesta vida. Nem merece.

Resistir às ordens da polícia, ideia mais absurda e louca, por isso mesmo, quem sabe? Ora quem sabe! Exu, pai e protector.

Amanhã, meio-dia lhe digo alguma coisa, vou pensar.

- Ao meio-dia em ponto voltarei. Boa-noite Vavá.

Já vai embora? Não quer tomar nada? Um trago de licor? Tenho aqui do bom, feito pelas freiras, de cacau e de violeta. É cedo, vamos conversar um pouco.

- Ainda tenho o que fazer antes de ir para o Flor de Lótus.

- Amanhã, então. Ao meio-dia, venha almoçar comigo. Me diga o que é que gosta de comer.

- O que houver, muito obrigada.

Levanta-se, Vavá a contempla em carne e osso, ai Deus do céu! Sorridente, Tereza se despede. Garra disforme, a mão de Vavá. Mas quanta delicadeza ao tocar nos dedos da rapariga. Não se contenta em ser bonita, tem ideias absurdas. Vavá, não sejas louco, toma cuidado, recorda-te de Anunciação do Crato. No peito um incêndio, como pode Vavá tomar cuidado? Caído de amores, perdidamente enamorado.

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