segunda-feira, novembro 07, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA





Episódio Nº 250



Não, absolutamente não! – exalta-se o redactor. Os turistas acorrem para “conhecerem e admirar, nossas praias, nossas igrejas recamadas de ouro, a azulejaria portuguesa, o barroco, o pitoresco das festas populares e das cerimónias feitichistas, as novas construções, o progresso industrial, para ver a beleza e não as manchas, a podridão dos Alagados e do meretrício!”.

Uma solução se impõe: a mudança da zona, retirada para local mais distante e discreto. Sendo impossível terminar com a chaga da prostituição, mal indispensável, vamos pelo menos escondê-la dos olhos piedosos das famílias e da curiosidade dos turistas.

Para começar, urge limpar a Barroquinha da infamante presença das rameiras.

Indignadíssima a imprensa, como se vê. Sobretudo ao referir-se aos bordéis situados na Barroquinha, “cancro a ser extirpado com urgência!”

As autoridades responsáveis, pela salvaguarda dos costumes ouviram o patriótico clamor e em boa hora decidiram transferir as mulheres da vida da Barroquinha para a Ladeira do Bacalhau.

13

- São milhares de marinheiros. Pagando em dólares. Já pensaram?

Os dois outros examinam a notícia na primeira página do vespertino, não há dúvida, a ideia parece boa.

- Você propõe exactamente o quê?

Quem entrasse apressado a comprar cigarros ou fósforos no Bar da Elite – mais conhecido entre a numerosa freguesia por Bar das Putas, no Maciel – e de raspão os visse, três senhores de gravata e chapéu, confabulando animadamente sobre volume de capital, condições do mercado consumidor, perspectiva de colocação do produto e duração do prazo de intensa procura, escolha de auxiliares capazes, localização dos pontos de oferta e venda, cálculo dos benefícios, poderia tomá-los por homens de negócios empenhados em estabelecer as bases de lucrativa empresa, e de certa maneira não se enganaria.

Permanecesse, porém, o casual freguês a bebericar uma cerveja em mesa próxima e atentasse nos três empresários, logo os identificaria, situando-os na verdadeira profissão, pois o detective Dalmo Garcia, o investigador Nicolau Ramada Júnior e o comissário Labão Oliveira fedem a polícia a quilómetros de distância. O que não os impede de realizar proveitosos negócios, quando se apresenta ocasião, excepcional.

Nada menos de três navios de guerra da esquadra norte-americana em manobras no Atlântico Sul arribariam à Bahia, demorando-se alguns dias e noites ancorados no porto. Milhares de marinheiros soltos na cidade, todos na zona a tirar a barriga de misérias, todos a necessitar de preservativos, pagamento em dólares, como pudera o pequeno cérebro de Peixe Cação conceber ideia assim excelente?

Eis a quanto pode levar o amor ao dinheiro, pensa o comissário Labão, também ele chegado a uns cobres fáceis: ilumina a cabeça mais bruta, torna inteligente a maior cavalgadura do mundo.

- E se a gente ampliasse um pouco o negócio? – insinua o detective Dalmo.

- Ampliar, como?


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