quinta-feira, novembro 10, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA





Episódio Nº 253



“O império da lei foi restaurado graças à acção enérgica e ponderada da polícia”. Os adjectivos são do delegado Hélio Cotias em entrevista à empresa e, se a ponderação pode ser posta em dúvida, energia realmente não faltou. Há quem fale em violência brutal e desnecessária, citando a rapariga morta com uma bala no pescoço e os feridos de ambos os sexos.

“Se existiram excessos a quem cabe a culpa?” – perguntou o bacharel Cotias a seus colegas de imprensa, também ele militara no jornalismo quando estudante de Direito. “Se não tivéssemos agido com mão forte, onde iríamos terminar?”

Com essa pergunta irrespondível e algumas fotografias – de perfil, assim fotografo melhor – encerrou-se a entrevista colectiva e o assunto tão badalado nas gazetas, a ponto do matutino do Rio de Janeiro publicar reportagem sobre os acontecimentos da última noite, ilustrada com fotos, numa das quais se vê Tereza Batista sendo segura por três tiras.

Dependendo de sentença de juiz, certamente favorável, restou apenas a acção movida pela firma H. Sardinha & Cª contra o Estado exigindo indemnização pelos danos causados nos imóveis de sua propriedade por multidão desenfreada – caracterizada a responsabilidade civil do Estado em virtude da falta de preservação da ordem pública. Causa ganha por antecipação.

Persistem algumas dúvidas, certamente jamais serão esclarecidas. Onde obter resposta concreta às indagações dos curiosos? O território do meretrício é vasto, impreciso, obscuro.

Até onde se chocaram, prejudicando-se mutuamente, os interesses da conceituada incorporadora e os da recém-constituída empresa dos três não menos conceituados policiais, empresa, por motivos óbvios sem título nem sigla?

Entregues a afazeres pessoais e urgentes, teriam o comissário e os tiras deixado ao desmazelo os deveres os deveres para com a sociedade (anónima)?

Esquecendo-se de cumprir as ordens do delegado Cotias, no entanto estritas? Ou bem o delegado, no embalo da recente paixão por Bada, esposa de delegado, buquê de virtudes peregrinas, linda, elegante e dadivosa, descuidou-se da causa sagrada da família (Sardinha)? Nessa pendência, aliás superada, entre autoridades igualmente ciosas de sua responsabilidade, o mais aconselhável é ninguém se meter. Eles são brancos e lá se entendem.

Exageraram os jornais na campanha, destinada a localizar na Ladeira do Bacalhau apenas as pensões da Barroquinha, provocando o pânico e exaltando os ânimos, concorrendo assim para os desmandos, ao propor e anunciar a mudança de todo o meretrício?

Vavá e dona Paulina de Sousa teriam mandado fazer o jogo, caso não se sentissem pessoalmente ameaçados?

Por outro lado, como poderia a imprensa bater-se pela mudança somente dos poucos covis da Barroquinha, seis ao todo?

Mesmo em assuntos de bordel é necessário saber guardar as aparências.


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