TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio nº 266
O retraimento é atributo de Ogum Peixe Marinho. Mesmo no terreiro só desce a dançar com o povo uma vez por ano, no mês de Outubro, no mais do tempo vive enrustido nas profundezas do mar. Pois, vejam só: considerou tão importante a consulta da filha em aflição que, abandonando os hábitos estritos, em lugar de responder nos búzios, veio em pessoa reluzindo escamas e corais.
Um pé-de-vento sacode mãe Mariazinha, fazendo-a estremecer. Ogum Peixe Marinho monta seu cavalo. Com amizade abraça a filha Paulina: generosa, ela concorre para manter o brilho do terreiro e é das primeiras a chegar para as festas de Outubro. Passa-lhe a mão de cima a baixo, da cabeça aos pés livrando-a do mau-olhado e das contrariedades. Em seguida, voz de marulho, classifica o assunto de enrolado, com alguns nós pelas costas e muita confusão, mas, se bem conduzido, apresenta resultado favorável. Quem não arrisca não petisca. Para ser mais claro ainda, acrescenta: quem quer vai, quem não quer manda portador, perde tempo e dinheiro.
E a moça Tereza merece confiança? Foi categórico: absoluta. Guerreira, filha de Iansã, por detrás dela Ogum Peixe Marinho avista um velho de bordão e barbas brancas, o próprio Lemba di Lê, dito Oxalá pelos nagôs.
Num golpe de vento o encantado vai de volta, mãe Mariazinha estremece e abre os olhos. Paulina beija-lhe a mão. Ao longe, para os lados da Ribeira, roncam atabaques.
24
Na noite seguinte, no Flor de Lótus, Almério das Neves dança com Tereza e a sente preocupada. Passara quatro dias sem a procurar, preso ao leito por uma gripe forte, apenas se levantou veio ao cabaré, Tereza o recebeu e saudou com amizade:
- Sumiu de minhas vistas, está-se vendendo caro.
Sob a brincadeira afectuosa, o desassossego. Na pista, castigando uma rumba, ele lhe pergunta se teve alguma notícia de Gereba. Não, nada de novo, infelizmente. Descobrira o escritório da firma que engajara os marujos a pedido do comandante do cargueiro. Prometeram-lhe buscar informações. Se obtivessem em seguida lhe transmitiriam. Deixe o número do telefone, é o melhor. Telefone não tem mas passará de quando em quando para saber. Já lá esteve duas vezes e até agora nada, o Balboa deve estar fazendo outra linha, esses navios panamianos não observam rota regular, vão para onde há carga, são barcos ciganos, esclarecera o espanhol Gonzalo, despachante da firma, pondo-lhe olhos de ostensivo frete. A Tereza só compete esperar com paciência, enquanto isso ir vivendo ao seu deus-dará.
Almério quis saber o que ela fizera durante esses dias. Ah!, tanta coisa, ele não estava a par das novidades, há muito a contar. Tensa, nem a conversa nem a dança a tranquilizam.
- Sabe com quem almocei hoje? Um xinxim de galinha espectacular. Duvido que adivinhe.
- Com quem?
- Com Vavá.
- Vavá do Maciel? Aquilo é um sujeito perigoso. Desde quando se dá com ele?
- Só agora o conheci… Vou lhe explicar…
O retraimento é atributo de Ogum Peixe Marinho. Mesmo no terreiro só desce a dançar com o povo uma vez por ano, no mês de Outubro, no mais do tempo vive enrustido nas profundezas do mar. Pois, vejam só: considerou tão importante a consulta da filha em aflição que, abandonando os hábitos estritos, em lugar de responder nos búzios, veio em pessoa reluzindo escamas e corais.
Um pé-de-vento sacode mãe Mariazinha, fazendo-a estremecer. Ogum Peixe Marinho monta seu cavalo. Com amizade abraça a filha Paulina: generosa, ela concorre para manter o brilho do terreiro e é das primeiras a chegar para as festas de Outubro. Passa-lhe a mão de cima a baixo, da cabeça aos pés livrando-a do mau-olhado e das contrariedades. Em seguida, voz de marulho, classifica o assunto de enrolado, com alguns nós pelas costas e muita confusão, mas, se bem conduzido, apresenta resultado favorável. Quem não arrisca não petisca. Para ser mais claro ainda, acrescenta: quem quer vai, quem não quer manda portador, perde tempo e dinheiro.
E a moça Tereza merece confiança? Foi categórico: absoluta. Guerreira, filha de Iansã, por detrás dela Ogum Peixe Marinho avista um velho de bordão e barbas brancas, o próprio Lemba di Lê, dito Oxalá pelos nagôs.
Num golpe de vento o encantado vai de volta, mãe Mariazinha estremece e abre os olhos. Paulina beija-lhe a mão. Ao longe, para os lados da Ribeira, roncam atabaques.
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Na noite seguinte, no Flor de Lótus, Almério das Neves dança com Tereza e a sente preocupada. Passara quatro dias sem a procurar, preso ao leito por uma gripe forte, apenas se levantou veio ao cabaré, Tereza o recebeu e saudou com amizade:
- Sumiu de minhas vistas, está-se vendendo caro.
Sob a brincadeira afectuosa, o desassossego. Na pista, castigando uma rumba, ele lhe pergunta se teve alguma notícia de Gereba. Não, nada de novo, infelizmente. Descobrira o escritório da firma que engajara os marujos a pedido do comandante do cargueiro. Prometeram-lhe buscar informações. Se obtivessem em seguida lhe transmitiriam. Deixe o número do telefone, é o melhor. Telefone não tem mas passará de quando em quando para saber. Já lá esteve duas vezes e até agora nada, o Balboa deve estar fazendo outra linha, esses navios panamianos não observam rota regular, vão para onde há carga, são barcos ciganos, esclarecera o espanhol Gonzalo, despachante da firma, pondo-lhe olhos de ostensivo frete. A Tereza só compete esperar com paciência, enquanto isso ir vivendo ao seu deus-dará.
Almério quis saber o que ela fizera durante esses dias. Ah!, tanta coisa, ele não estava a par das novidades, há muito a contar. Tensa, nem a conversa nem a dança a tranquilizam.
- Sabe com quem almocei hoje? Um xinxim de galinha espectacular. Duvido que adivinhe.
- Com quem?
- Com Vavá.
- Vavá do Maciel? Aquilo é um sujeito perigoso. Desde quando se dá com ele?
- Só agora o conheci… Vou lhe explicar…
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